Novo surto e ameaça da variante Delta colocam a China em alerta

por Mariana Ribeiro Soares - RTP

A China está atualmente a lutar contra o maior surto desde Wuhan, onde o SARS-CoV-2 surgiu pela primeira vez. Nas últimas duas semanas foram confirmados mais de 300 casos num total de 15 províncias. O Governo descreve a situação como “sombria e complicada” e atribui este novo surto à mais contagiosa variante Delta e ao turismo.

Depois de meses consecutivos a registar poucos ou nenhuns casos de infeção transmitidos localmente, a China está novamente a braços com um novo surto que está a disseminar-se a várias províncias, o que colocou as autoridades em alerta.

Estima-se que a nova vaga de casos se tenha originado na cidade oriental de Nanjing. As infeções surgiram pela primeira em julho no aeroporto de Nanjing, entre trabalhadores que tinham estado responsáveis pela limpeza de um avião vindo da Rússia. Desde então foram reportados mais de 300 casos num total de 15 províncias, incluindo Pequim, sendo que as infeções reportadas em 12 províncias estão ligadas ao surto inicial.

As autoridades confirmaram que a maioria dos novos casos são da variante Delta, mais contagiosa. Os 9,2 milhões de residentes em Nanjing foram rapidamente testados à Covid-19 pelas autoridades de saúde e foi ainda imposto um confinamento a centenas de milhares de pessoas.

No entanto, no fim-de-semana, um novo surto chamou a atenção das autoridades em Zhangjiajie, no centro da China, um destino turístico de renome mundial na província de Hunan, onde já foram identificados pelo menos oito casos de infeção após um evento público que reuniu mais de 2.000 pessoas. Acredita-se que turistas de Naijing tenham visitado a cidade de Zhangjiajie recentemente.

As autoridades de saúde estão agora a tentar rastrear as cerca de cinco mil pessoas que participaram no evento e viajaram de volta para casa. Entretanto, todas as atrações turísticas em Zhangjiajie foram encerradas e aos turistas está a ser exigido um teste antes de deixarem a cidade.

“Zhangjiajie tornou-se agora o novo marco zero para a propagação da epidemia na China"
, disse Zhong Nanshan, o maior especialista em doenças respiratórias da China.

Em Zhuzhou, na província central de Hunan, mais de um milhão de pessoas foram convidadas a não sair de casa durante três dias, enquanto são organizadas campanhas de testagem e vacinação em massa. O governo regional descreveu a situação como "sombria e complicada".

O novo surto também atingiu Pequim, com novos casos confirmados de transmissão local. Todas as ligações, aéreas e terrestres, de Pequim para áreas com casos positivos de Covid-19 foram cortadas. Os turistas estão também impedidos de entrar na capital chinesa, sendo apenas permitida a entrada a viajantes considerados essenciais com um teste negativo à Covid-19.

A nova vaga de infeções também atingiu Wuhan, a cidade chinesa onde foram detetados os primeiros casos de infeção com o vírus SARS-CoV-2, com sete casos detetados. Wuhan não registava nenhuma infeção local desde junho de 2020, segundo as autoridades chinesas.
Especialistas preocupados
O principal especialista em doenças respiratórias da China, Zhong Nanshan, expressou grande preocupação com o último surto de Covid-19 em Zhangjiajie, temendo uma maior propagação da variante Delta e um ressurgimento de casos em todo o país.

Epidemiologistas chineses e autoridades de saúde pública afirmaram no domingo que os surtos ativos estão ainda sob controlo, mas sublinham que são necessários mais esforços e enfatizam a necessidade de vacinar em massa.

Uma outra preocupação para os especialistas é a eficácia das vacinas perante a infeção com a variante Delta, uma vez que parte dos novos infetados são pessoas já vacinadas.

Shao Yiming, um investigador do Centro para Controle e Prevenção de Doenças da China, disse no sábado que infeções súbitas em pessoas vacinadas "são expectáveis" e Zhong Nanshan sublinhou que as vacinas chinesas são eficazes na proteção contra a infeção pela variante Delta.

O principal epidemiologista da China salientou ainda que o país precisa vacinar 83 por cento da população para obter a imunidade de grupo. Embora não se saiba ao certo o número de pessoas totalmente vacinadas contra a Covid-19 na China, os dados publicados pelas autoridades apontam para 1,6 mil milhões de doses de vacinas administradas no país.
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