Ómicron põe à prova a "política zero" da China relativamente à covid-19

por RTP
Aly Song - Reuters

A China tem sido apontada como um exemplo de sucesso na resposta à pandemia. A “política zero covid” permitiu reduzir substancialmente o número de casos do novo coronavírus, mas a chegada da nova e altamente contagiosa variante, a Ómicron, veio testar esta mesma política. Especialistas preveem que serão anunciadas mais medidas restritivas nos próximos dias, tendo em conta o aparecimento de novos surtos e a aproximação dos Jogos Olímpicos de Inverno. No entanto, consideram que a política de tolerância zero é “insustentável e desnecessária”.

Na semana passada, foi anunciado que uma banqueira de 26 anos era a paciente zero da Ómicron em Pequim, o que levou à testagem de mais de 13 mil pessoas e de todos os locais visitados pela jovem. O prédio onde residia e o local de trabalho também foram isolados. Em várias conferências de imprensa, as autoridades de saúde pediram cautela aos mais de 20 milhões de habitantes em Pequim.

Pelo menos nove cidades em seis províncias chinesas reportaram casos associados à variante Ómicron. Desde 15 de janeiro, Pequim relatou menos de dez infeções locais das variantes Delta e Ómicron. Em comparação com o resto do mundo, numa altura em que vários países atingem recordes de infeções dia após dia, o número de casos em Pequim é apenas uma pequena amostra, mas o suficiente para fazer soar os alarmes na capital chinesa.

O surto em Pequim surge numa altura em que faltam apenas duas semanas para os Jogos Olímpicos de inverno e a poucos dias das celebrações do ano novo chinês, que começam a 1 de fevereiro. Desta forma, a autoridades já começaram a aplicar a política de “tolerância zero”, ao suspenderem voos e rotas ferroviárias e ao cancelarem a venda de bilhetes para os Jogos Olímpicos para o público em geral.
Política zero covid é “insustentável e desnecessária”
Os especialistas acreditam que serão anunciadas medidas mais duras nas próximas semanas, mas questionam a eficácia da “política zero” a longo prazo. Apesar de o método controverso ter apresentado bons resultados, o custo pessoal e social é bastante elevado.

“A deteção da variante Ómicron em muitas cidades da China, incluindo Pequim, mostra o quão difícil pode ser manter a política de zero Covid”, disse o professor Jin Dong-yan, da Escola de Ciências Biomédicas da Universidade de Hong Kong.

Jin Dong-yan considera que a longo prazo, a política de tolerância zero “é insustentável e desnecessária, e a chegada da Ómicron pode torná-la ainda mais desafiadora”. “Mas a China é um navio grande demais para mudar de direção”, acrescentou. “Não tem a sabedoria ou a capacidade de o fazer tão bem quanto Hong Kong ou Taiwam. É desafiador e caro mantê-la ou abandoná-la”, afirmou.

Chen Xi, especialista em saúde pública da escola de saúde pública de Yale, disse que, embora a China continue a insistir na política de “zero Covid”, as autoridades também estão a aguardar para perceber o impacto desta nova variante. “Muitos pensam que a China está a usar apenas a política de tolerância zero, mas, na minha opinião, também está a esperar para ver”, disse Chen Xi, citado por The Guardian, acrescentando que os especialistas chineses perceberam que a natureza da doença também está a evoluir.

“De facto, vários especialistas chineses estão agora a observar atentamente até que ponto esta nova variante traria consequências para o sistema de saúde e quão preparada a China estaria para enfrentar esse desafio”, disse Chen Xi. “É importante ter esses dados antes de Pequim decidir finalmente se irá aliviar as medidas gradualmente”, explicou.

O número total de casos ativos na China continental é atualmente de 3.173, entre os quais 12 em estado grave. Desde o início da pandemia, 105.484 pessoas foram infetadas no país e 4.636 morreram.
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