O Reino Unido decidiu retirar França da lista de países para onde é seguro viajar, obrigando quem chega de lá a cumprir 14 dias de quarentena obrigatória e arruinando, assim, os planos de centenas de milhares de viajantes. A decisão não foi vista com bons olhos por França, que já ameaçou avançar com medidas recíprocas. A tensão entre os dois países surge num momento em que Paris foi novamente declarada zona "vermelha", com elevado risco de transmissão do novo coronavírus.
A decisão do Reino Unido acontece depois de França – o segundo destino mais popular entre britânicos, depois de Espanha – ter registado um aumento recorde no número de novos casos desde que iniciou o confinamento: 2669 em apenas 24 horas.
Juntamente com França, também os Países Baixos, Malta e as ilhas de Turcos e Caicos e Aruba serão retiradas da lista britânica de países para onde é seguro viajar.
A decisão tem particular impacto em França, onde muitos britânicos se encontram já de férias, tendo agora de decidir se querem ou não antecipar o seu regresso ao país natal para poderem escapar à quarentena de 14 dias.
Horas antes de anunciada a medida, o primeiro-ministro britânico defendeu que o país tem de ser “absolutamente implacável” no que diz respeito à pandemia, “mesmo com os mais próximos e estimados amigos e parceiros”.
A oposição do Governo do Reino Unido disse entender a medida, mas criticou o percurso que levou a que a mesma tivesse de ser tomada. “O facto de o Governo ainda não ter posto em prática um sistema de deteção, rastreamento e isolamento de casos piorou o problema e fez com que ficássemos dependentes da aplicação de 14 dias de quarentena”, considerou o deputado da oposição Nick Thomas-Symonds.
França ameaça avançar com “medidas recíprocas”
França não ficou agradada com a decisão do Executivo de Boris Johnson e já ameaçou ripostar. “É uma decisão britânica que lamentamos e que originará medidas recíprocas, na esperança de um regresso à normalidade assim que possível”, escreveu no Twitter o secretário francês para Assuntos Europeus, Clément Beaune.
O secretário francês dos Transportes reagiu de forma semelhante e disse já ter falado com o homólogo britânico sobre o assunto. “França lamenta a decisão do Reino Unido e irá aplicar medidas recíprocas em relação aos transportes”, escreveu Jean-Baptiste Djebbari no Twitter.
“Comuniquei ao meu homólogo Grant Shapps a nossa vontade de harmonizar os protocolos sanitários de modo a assegurar um elevado nível de proteção em ambos os lados do Canal da Mancha”, acrescentou.
Paris e Bouches-du-Rhone passam a zonas “vermelhas”
Esta sexta-feira, horas depois da decisão britânica, o Governo francês classificou a cidade de Paris e a área de Bouches-du-Rhone, nos arredores de Marselha, de zonas “vermelhas” por apresentarem um elevado risco de infeção pelo novo coronavírus.
Assim sendo, as autoridades locais passam a ter poder para limitar a circulação de pessoas e veículos, restringir o acesso a transportes públicos e aéreos, limitar o acesso a edifícios públicos e encerrar estabelecimentos nos quais haja um maior risco de contágio.
Na última semana, França viu um aumento de 66 por cento no número de novos casos e uma subida de 52 por cento na taxa de incidência do vírus por cada 100 mil habitantes.
Segundo o Centro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças, o número cumulativo de casos de Covid-19 em França por cada 100 mil pessoas nos últimos 14 dias atingiu os 32.1, enquanto no Reino Unido esse número se fixa nos 18.5.
c/ agências