Reino Unido impõe quarentena a quem chegue de França e arrisca "medidas recíprocas"

por Joana Raposo Santos - RTP
Paris foi novamente declarada zona "vermelha", com elevado risco de transmissão do novo coronavírus. Benoit Tessier - Reuters

O Reino Unido decidiu retirar França da lista de países para onde é seguro viajar, obrigando quem chega de lá a cumprir 14 dias de quarentena obrigatória e arruinando, assim, os planos de centenas de milhares de viajantes. A decisão não foi vista com bons olhos por França, que já ameaçou avançar com medidas recíprocas. A tensão entre os dois países surge num momento em que Paris foi novamente declarada zona "vermelha", com elevado risco de transmissão do novo coronavírus.

A partir das quatro da manhã de sábado, quem chegue ao Reino Unido vindo de território francês terá de ficar 14 dias de quarentena. Caso contrário, receberá uma multa. Mais uma vez - algo semelhante aconteceu com Espanha no fim de julho -, a medida britânica surge repentinamente e deixou aos viajantes pouco mais de 30 horas para decidirem sobre os seus planos.

A decisão do Reino Unido acontece depois de França – o segundo destino mais popular entre britânicos, depois de Espanha – ter registado um aumento recorde no número de novos casos desde que iniciou o confinamento: 2669 em apenas 24 horas.

Juntamente com França, também os Países Baixos, Malta e as ilhas de Turcos e Caicos e Aruba serão retiradas da lista britânica de países para onde é seguro viajar.

A decisão tem particular impacto em França, onde muitos britânicos se encontram já de férias, tendo agora de decidir se querem ou não antecipar o seu regresso ao país natal para poderem escapar à quarentena de 14 dias.

Horas antes de anunciada a medida, o primeiro-ministro britânico defendeu que o país tem de ser “absolutamente implacável” no que diz respeito à pandemia, “mesmo com os mais próximos e estimados amigos e parceiros”.

A oposição do Governo do Reino Unido disse entender a medida, mas criticou o percurso que levou a que a mesma tivesse de ser tomada. “O facto de o Governo ainda não ter posto em prática um sistema de deteção, rastreamento e isolamento de casos piorou o problema e fez com que ficássemos dependentes da aplicação de 14 dias de quarentena”, considerou o deputado da oposição Nick Thomas-Symonds.
França ameaça avançar com “medidas recíprocas”
França não ficou agradada com a decisão do Executivo de Boris Johnson e já ameaçou ripostar. “É uma decisão britânica que lamentamos e que originará medidas recíprocas, na esperança de um regresso à normalidade assim que possível”, escreveu no Twitter o secretário francês para Assuntos Europeus, Clément Beaune.

O secretário francês dos Transportes reagiu de forma semelhante e disse já ter falado com o homólogo britânico sobre o assunto. “França lamenta a decisão do Reino Unido e irá aplicar medidas recíprocas em relação aos transportes”, escreveu Jean-Baptiste Djebbari no Twitter.

“Comuniquei ao meu homólogo Grant Shapps a nossa vontade de harmonizar os protocolos sanitários de modo a assegurar um elevado nível de proteção em ambos os lados do Canal da Mancha”, acrescentou.
Paris e Bouches-du-Rhone passam a zonas “vermelhas”
Esta sexta-feira, horas depois da decisão britânica, o Governo francês classificou a cidade de Paris e a área de Bouches-du-Rhone, nos arredores de Marselha, de zonas “vermelhas” por apresentarem um elevado risco de infeção pelo novo coronavírus.

Assim sendo, as autoridades locais passam a ter poder para limitar a circulação de pessoas e veículos, restringir o acesso a transportes públicos e aéreos, limitar o acesso a edifícios públicos e encerrar estabelecimentos nos quais haja um maior risco de contágio.

Na última semana, França viu um aumento de 66 por cento no número de novos casos e uma subida de 52 por cento na taxa de incidência do vírus por cada 100 mil habitantes.

Segundo o Centro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças, o número cumulativo de casos de Covid-19 em França por cada 100 mil pessoas nos últimos 14 dias atingiu os 32.1, enquanto no Reino Unido esse número se fixa nos 18.5.

c/ agências
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