"Anarquia institucional" no sector da Arqueologia

por © 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

A presidente da Associação Profissional de Arqueólogos, Maria José Almeida, afirmou hoje que em Portugal "reina a anarquia institucional" no que respeita a este sector de investigação.

A arqueóloga falou à agência Lusa 48 horas antes da apresentação dos resultados do "Inquérito Nacional à Actividade Arqueológica", na Livraria Ler Devagar, em Braço de Prata (Sacavém).

A "anarquia institucional", precisou, deve-se ao facto de "os arqueólogos não perceberem como vão funcionar" relativamente ao IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico), o novo organismo criado no âmbito da Reforma da Administração Central que agrupa os antigos institutos do património arquitectónico (IPPAR) e de arqueologia (IPA).

Esta situação, segundo a mesma responsável, justifica também o facto de a Associação Profissional de Arqueólogos (APA) "não ter tomado ainda nenhuma posição oficial sobre esta fusão".

"Na realidade - frisou - ainda não percebemos com vai funcionar nem quem será o nosso interlocutor".

O Inquérito, cujos resultados serão apresentados sábado à tarde, é uma actualização do realizado em 2003, quando o ex-ministro da Cultura Pedro Roseta anunciou a fusão do IPPAR com o IPA e a transferência de certas competências para as autarquias.

"Fizemos uma actualização enviando questionários, não só às autarquias, como a múltiplas entidades que em Portugal exercem arqueologia", explicou.

No total foram enviados questionários a 424 entidades, correspondendo as respostas ao período de Maio a Outubro de 2006.

Segundo Maria José Almeida, "as respostas são maioritariamente de autarquias, mas há associações culturais, fundações, museus e empresas privadas" que também dirigem escavações arqueológicas.

As respostas das empresas de arqueologia, centros de investigação e associações, observou, "apenas são significativas pela ausência".

No total, 35% das respostas são de autarquias, 12% de centros de investigação e associações e 06% de empresas privadas de arqueologia.

Ainda segundo a presidente da APA, "actualmente não há uma base fiável que liste os arqueólogos a exercerem em Portugal, bem como as escavações".

"Sabemos - indicou - os arqueólogos que dirigem escavações, pois há que fazer um pedido nesse sentido, mas não sabemos quantos arqueólogos trabalham sob a sua orientação".

O estudo que será apresentado, além de trazer dados novos relativamente a 2002, estabelece também algumas comparações com os dados obtidos há quatro anos.

Um dos resultados deste inquérito é o de que as autarquias revelam "uma intensa relação com arqueologia", actuando essencialmente na "arqueologia de salvaguarda".

Todavia, as "acções promovidas directamente pelos municípios parece ser casuístico e decorrer do sabor de flutuações nos recursos disponíveis".

Os municípios preferem, segundo o estudo, "a relação com os investigadores a título individual e com as universidades".

Os autores do Inquérito reconhecem, porém, que este "retrato-tipo é redutor", salientando que, apesar das "limitações no tratamento estatístico dos dados", é "importante" a divulgação dos resultados.


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