Arquitetura, escultura e cinema têm base comum, afirma Siza Vieira

por Lusa

Valência, Espanha, 03 dez (Lusa) -- O arquiteto português Álvaro Siza afirmou hoje que não apenas a arquitetura e a escultura têm uma base comum, como "também pertencem à mesma família o ballet e o cinema, embora a sua relação seja menos direta".

Ao falar no Colóquio "Alfaro", na sede da Fundação Bancaja, em Valência, Siza Vieira disse que, "em arquitetura, há sempre dúvida e medo" e, ao desenhar, sempre que começa um projeto, encontra "os inúmeros problemas que rodeiam a arquitetura".

"Nisso, também se assemelha à escultura, na necessidade de desenhar", declarou, citado pela agência Efe, no colóquio dedicado ao escultor valenciano Andreu Alfaro (1929-2012).

Para o arquiteto, distinguido, em 1992, com o Prémio Pritzker e, em 2012, com o Leão de Ouro de Carreira na Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza, "enquanto a arquitetura e a escultura estão relacionadas com a forma, o desenvolvimento e a continuidade do espaço, a escultura não leva em conta o comportamento humano, enquanto a arquitetura tem literalmente gente dentro".

Citado pela agência Efe, na iniciativa, Siza Vieira contou que, quando criança, na década de 1940, com 8 ou 10 anos, queria ser escultor, mas acabou por entrar no mundo da arquitetura, apesar de não ter tido contacto prévio, nem familiar, nem profissional, com esta área.

"Quando entrei na Escola de Artes, o primeiro professor que criticou o que eu fiz, disse-me que o meu trabalho mostrava que eu não entendia absolutamente nada sobre o que é arquitetura, e aconselhou-me a comprar revistas especializadas sobre o assunto", recordou o arquiteto.

Siza Vieira também lamentou a falta de direitos de autor no trabalho dos arquitetos.

Na arquitetura, ao invés da escultura, a autoria é diluída: "Entrega-se o projeto a um arquiteto, chama-se um engenheiro e agora existem até especialistas nas janelas, a soma de diferentes elementos quebra a ideia de autoria", exemplificou.

"A imagem ou ideia inicial pertence ao autor, mas o desenvolvimento de um projeto arquitetónico é muito complexo e envolve diferentes perfis técnicos, enquanto na escultura um único autor faz uma peça", declarou.

Questionado sobre o momento em que conheceu o trabalho do escultor Andreu Alfaro, Siza Vieira garantiu que estava "espantado e furioso por não o ter conhecido antes", revelando que é um apaixonado pelo trabalho do escultor valenciano.

Nascido há 84 anos, em Matosinhos, onde em agosto de 2009 o Governo português lhe entregou a Medalha de Mérito Cultural, Álvaro Siza Vieira estudou na Faculdade de Belas Artes do Porto, onde foi professor, e criou em Portugal obras emblemáticas como a Casa de Chá da Boa Nova, em Leça da Palmeira, a reconstrução da zona do Chiado, em Lisboa, após o incêndio de 1988, o Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, ou o Pavilhão de Portugal, com a sua emblemática pala, no Parque das Nações, no âmbito da Exposição Mundial de 1998, em Lisboa.

No estrangeiro, são da sua autoria o museu para a Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, no Brasil, o Centro Meteorológico da Vila Olímpica, em Barcelona, e a reitoria da Universidade de Alicante, ambos em Espanha, entre outros projetos.

Doutor Honoris Causa de várias universidades, o trabalho de Álvaro Siza tem sido internacionalmente galardoado. Além do Pritzker, recebeu os prémios Mies van der Rohe, em 1988, o Wolf, em 2001, a Real Medalha de Ouro do Instituto Britânico de arquitetos, em 2009, a Medalha Alvar Aalto, do Museu de Arquitetura e da Associação Finlandesa de Arquitetos, em 1988, e a Medalha de Ouro da União Internacional dos Arquitetos, em 2011.

Foi também condecorado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública, distinção que junta à de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant`Iago da Espada, recebida em 1992, e à Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal (1999).

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