A socióloga Maria Filomena Mónica qualificou o seu livro de memórias, "Bilhete de Identidade", a apresentar quarta-feira, em Lisboa, como "arriscado".
Num país onde há "pouca tradição memoralística" a socióloga disse à agência Lusa ter tido medo de editar esta obra, que considera "um livro arriscado" e qualifica como "uma experiência narrativa diferente".
Ao contrário das habituais memórias - "habitualmente justificativas ou auto-glorificatórias" - Maria Filomena Mónica afirmou ter procurado "ser tão fria quanto possível".
"Porém, esta é a minha verdade, procurei explicar a minha vida tal como a vi, sem me desculpar nem explicar comportamentos", disse.
"Este é um livro que fala da vida tal como a vi e vivi, sem querer magoar ninguém, é a minha verdade - cada um terá a sua - mas apresento factos", acrescentou.
Relativamente a um segundo volume, pois este reúne apenas os seus primeiros 33 anos de vida de 1943 a 1976, a socióloga está ainda a ponderar a hipótese.
"Não sei se me apetece, até porque depois deste livro sinto-me exausta física e emocionalmente", afirmou.
"Por outro lado, a experiência diz-me que os segundos volumes de memórias são sempre menos interessantes que os primeiros", acrescentou.
"Bilhete de Identidade. Memórias 1943-1976" é apresentado quarta-feira à tarde no Grémio Literário, em Lisboa, por Rui Ramos, João Bénard da Costa e Lourenço Correia de Matos.
Inicialmente, quando o começou a escrever Maria Filomena Mónica pensou em "esconder" os nomes das muitas personagens com quem se cruzou em iniciais.
Mas o conselho de um amigo, o embaixador José Cutileiro, e a sua reflexão, fê-la pôr de lado esta hipótese, "até porque sendo um meio tão pequeno toda a gente se conhece em Portugal".
"Ultrapassei este pudor inicial e decidi colocar os nomes das pessoas com quem me relacionei e cruzei na vida", referiu.
Outro facto que a levou a repensar as suas memórias foi o primeiro casamento.
Numa primeira fase do livro, ignorou por completo o primeiro casamento, em 1963 com Carlos Pinto Coelho, filho de um professor da Universidade de Direito de Lisboa, que durou sete anos e com quem tem dois filhos.
"Por qualquer razão, achava que tinha casado e depois em 1971, quando me divorciei, tinha ido para Oxford e prosseguia a vida".
"A razão por que inicialmente os obliterei foi porque correspondem à fase mais dolorosa da minha vida", confidenciou à Lusa.
Procurou então, cartas, fotografias e outros documentos dessa época e recriou-a.
Originária de uma família católica conservadora, Maria Filomena Mónica considera a sua história como "a de uma mulher que viveu um período de mudanças políticas e sociais" e que também isso se reflecte nestas memórias.
Quanto a planos futuros, "jubilada há uma semana, com 62 anos, 2006 será o que for, não espero nada, sempre fui mais uma espectadora, aguardo".
Como mulher, a socióloga define-se como "temperamental, solitária, avessa a grandes reuniões e sem gosto de comando ou pelo poder".