Cabo-verdianas lutam por artesanato nacional, contra souvenirs "made in" China

por Lusa

Praia, 18 ago (Lusa) -- O artesanato genuinamente cabo-verdiano foi recentemente recuperado por dezenas de mulheres que, organizadas em cooperativas, criaram uma marca e divulgam agora produtos como objetos em pedras vulcânicas do Fogo, cerâmica de Santiago ou acessórios com "panu di terra".

A iniciativa da Organização das Mulheres de Cabo-Verde (OMCV) e de uma outra organização não governamental italiana (Persone Come Noi), visou combater a ausência de artesanato verdadeiramente cabo-verdiano no mercado e impedir que esta falta continuasse a ser preenchida com produtos alusivos ao país, mas "made in" China ou proveniente de outros países africanos.

"Notámos, no nosso trabalho no terreno, que o artesanato cabo-verdiano estava pouco conhecido e que este nosso artesanato não chegava aos turistas para que estes pudessem comprar algo genuinamente cabo-verdiano e levar como souvenir para o seu país de origem", disse à agência Lusa a secretária-executiva da OMCV, Eloisa Cardoso.

Com financiamento da União Europeia, estas mulheres criaram a marca Mãos de Cabo Verde, a qual entre 2014 e 2017 investiu no reforço da formação de 164 mulheres e três homens nas áreas de artesanato ao nível da cerâmica, "panu di terra" (um tecido típico feito de forma artesanal em teares manuais), corte e costura com aplicação de "panu di terra" e moldagem de pedras vulcânicas.

Após a formação, os objetos começaram a chegar ao mercado e, com pouco mais de um ano de vendas, Eloisa Cardoso não tem dúvidas que o panorama está a mudar.

"Os produtos estão agora no mercado e notamos diferenças, porque já temos hotéis com interesse na nossa marca e revendedores nas ilhas do Sal e Boavista com interesse em manter essa venda. Em Santiago, na Cidade da Praia, já temos lojas com algumas dessas peças", disse.

Desde 2016, as vendas destas peças atingiram os 672 mil escudos cabo verdianos (cerca de 6.057 euros), além das vendas que as cooperativas realizam nas feiras ou nos seus ateliês.

A marca já ultrapassou fronteiras: "Temos pessoas que nos dizem que tomaram conhecimento da marca em Espanha ou Itália. Notamos um aumento da procura deste artesanato por turistas e pessoas que querem enviar artesanato genuinamente cabo-verdiano para pessoas que estão no estrangeiro".

Na produção destas peças estão 120 mulheres organizadas em dez cooperativas, nas várias ilhas de Cabo Verde, que as produzem de uma forma genuína e com o objetivo dos turistas comprarem algo que diga e seja cabo-verdiano.

"O nosso artesanato é feito por mãos de mulheres cabo-verdianas, da forma tradicional, com as mais velhas a passar esse conhecimento para os mais jovens. Não dizem Cabo Verde por dizer, mas falam da cultura e da tradição cabo-verdiana", afirmou.

Segundo Eloisa Cardoso, todas as peças têm tido vendas consideráveis, mas as que mais saem são as produzidas com pedras vulcânicas da Ilha do Fogo.

Com a forma das casas tradicionais da Ilha do Fogo - em ímanes, brincos ou simples objetos decorativos - as pedras vulcânicas compõem ainda tartarugas de todos os tamanhos e feitios, numa alusão a esta espécie protegida em Cabo Verde.

As mãos que produzem estes artigos são de mulheres desalojadas do Chã das Caldeiras (Ilha do Fogo) devido ao vulcão que entrou em erupção em 2014.

"Quando o projeto começou, logo a seguir houve a erupção e tivemos de fazer um novo levantamento das beneficiárias. Resolvemos trabalhar com as desalojadas" de Chã das Caldeiras.

Tópicos
pub