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Centenário de Bernardo Santareno começa hoje a ser celebrado na Gulbenkian

por Lusa

Lisboa, 18 jan 2020 (Lusa) -- As comemorações do centenário de Bernardo Santareno começam hoje, em Lisboa, com um colóquio na Fundação Calouste Gulbenkian, em homenagem ao dramaturgo português, nascido a 19 de novembro de 1920.

Subordinado ao tema "É no Homem, nas suas urgentes e sangrentas ansiedades, que está a raiz da atual criação dramática", o colóquio é uma iniciativa da atriz e encenadora Fernanda Lapa e da sua Escola de Mulheres-Oficina de Teatro, em parceria com a Associação Portuguesa de Escritores.

O encontro vai abordar diferentes aspetos da vida e obra daquele que é tido como um dos maiores dramaturgos portugueses do século XX.

A sessão de abertura, marcada para as 10:00, contará com a presença de Nuno Artur Silva, secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, assim como de Guilherme de Oliveira Martins, administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, José Manuel Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Escritores, e Fernanda Lapa.

A conferência de abertura deste colóquio, intitulada "Bernardo Santareno: Teatro, Utopia, Performatividade", estará a cargo de Susana Moura, seguindo-se um painel dedicado ao tema "Eu creio que, na verdade, é aos encenadores que compete o mais importante papel na luta por um teatro popular".

A parte da tarde reserva duas mesas de debate. A primeira debruça-se sobre o tópico "O texto de uma peça pode ser belo através da leitura, mas nunca, uma coisa que nasce para ser gritada, é tão bela como quando a podemos sussurrar", ao passo que a segunda parte do mote "O Homem de Teatro necessita do público de uma maneira carnal, pois o Teatro é, em si mesmo, a expressão artística mais carnal de todas".

O colóquio encerra às 17:00, com a exibição do documentário "Bernardo Santareno Português, Médico, Escritor", de Luís Filipe Costa.

Este é o arranque de um conjunto de atividades que se vão estender ao longo do ano e que têm como um dos pontos altos a estreia da peça "O Pecado de João Agonia", com encenação de Fernanda Lapa, no Teatro da Trindade, a 19 de novembro, dia em que passam cem anos sobre o nascimento do dramaturgo.

A exibição de filmes e documentários, mesas redondas, sessões de leitura, peças de teatro, exposições, edições e reedições da obra de Bernardo Santareno são outras iniciativas que fazem parte do leque de ofertas culturais que, ao longo do ano vão homenagear o dramaturgo.

Nascido António Martinho do Rosário, em Santarém, formou-se em Medicina e especializou-se em psiquiatria, mas foi com o pseudónimo literário Bernardo Santareno que se tornou conhecido fora dos consultórios onde trabalhou. Morreu a 29 de agosto de 1980, com 59 anos.

"A Promessa", adaptada ao cinema por António Macedo (longa-metragem que foi selecionada para o Festival de Cannes), "O Lugre", "O Crime da Aldeia Velha", "António Marinheiro ou o Édipo de Alfama", "O Pecado de João Agonia", "O Judeu", "A Traição do Padre Martinho" e "Português, Escritor, 45 Anos de Idade" são algumas das peças de Bernardo Santareno, que se destacaram nos palcos.

O autor também escreveu poesia ("A Morte na Raiz", "Romances do Mar", "Os Olhos da Víbora") e relatos de viagens, nomeadamente em "Nos Mares do Fim do Mundo".

Este livro de crónicas e relatos testemunha igualmente a saga dos pescadores da antiga frota bacalhoeira portuguesa, contrariando a visão oficial das condições de trabalho e da pesca, divulgada pela ditadura.

Bernardo Santareno foi um dos médicos que acompanhou as longas campanhas, realizadas no final dos anos de 1950, integrado na equipa do navio hospital Gil Eannes -- mas viajando também em arrastões como Senhora do Mar e David Melgueiro --, onde testemunhou as precárias condições de higiene, de salubridade e as jornadas de trabalho, muitas vezes ininterruptas, de dezenas de horas, a que os pescadores, parcamente pagos, eram sujeitos.

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