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Companhia de Viana celebra Ruben A. com leituras da obra por gente "de todas as idades"

por Lusa

O Teatro do Noroeste - CDV estreia, na terça-feira, um vídeo com interpretações de textos de Ruben A., por elementos das suas oficinais, gravado durante o confinamento da pandemia de covid-19, para celebrar o centenário do nascimento do escritor.

O trabalho "Comemorativo 100 Anos: Rostos e Páginas de Ruben A.", vai ser exibido às 18:30, e reúne a interpretação das crónicas do escritor sobre a viagem que realizou, num táxi inglês que comprou, entre Londres, no Reino Unido, até à freguesia de Carreço, em Viana do Castelo, onde construiu casa e onde viria a ser sepultado.

"Para nós, é absolutamente extraordinário ver estas pessoas a dizerem Ruben A., autor que toda a gente do meio literário diz não ser fácil de ler", afirmou o diretor artístico da companhia, Ricardo Simões.

Os textos são interpretados por 42 elementos, "de todas as idades e até de outras nacionalidades", que fazem parte das quatro oficinais ATIVAsénior, ATIVAjúnior, Enquanto Navegávamos (formada por ex-trabalhadores dos extintos Estaleiros Navais de Viana do Castelo) e ATIVATodos.

"Conseguimos, um bocadinho, democratizar a obra. Mais do que celebrar os profissionais, os amantes da literatura, [conseguimos que] estas pessoas, das quais, se calhar, muitas desconheciam por completo a obra, [tivessem] contactado com ela", especificou.

Para Ricardo Simões, o vídeo a estrear na terça-feira, "mais do que a celebração formal da data", permitiu "aproximar" a obra de Ruben A. de "todo o tipo de leitores".

"É este o aspeto que me parece inovador e meritório. A ideia partiu dos formadores das oficinais regulares de teatro. Aproveitar o centenário do nascimento do escritor, e pôr estas pessoas a lerem, a preparar os seus textos", reforçou.

O programa comemorativo do centenário do nascimento do escritor, numa iniciativa conjunta entre a Câmara de Viana do Castelo e o Teatro do Noroeste - Centro Dramático de Viana, será transmitido através da página de Facebook da companhia.

Para as 17:00 está também marcada a estreia de uma criação em vídeo, intitulada Sargaço, gravada na casa do escritor, em Carreço, com realização de Elisabete Pinto.

Já às 21:00, "será transmitido um depoimento de Dália Dias, investigadora especializada na obra de Ruben A.".

As comemorações do centenário do nascimento de Ruben A. terminam às 21:30, com a transmissão do espetáculo "O Mundo à Minha Procura" (2015), sobre a perspetiva autobiográfica do escritor, com encenação de Ricardo Simões.

A primeira atividade comemorativa está marcada para as 10:00 com uma romagem ao cemitério de Carreço, onde o escritor se encontra sepultado. Às 11:00 será transmitida uma mensagem do presidente da Câmara de Viana do Castelo, José Maria Costa, seguindo-se, às 12:30, um depoimento de José Manuel Villas Boas, amigo de Ruben A..

Ruben A. é o nome literário de Ruben Alfredo Andresen Leitão, que se estreou em 1949 com "Páginas", obra em seis volumes, na qual o estilo diarístico e a ficção se entrecruzam.

Em 1954 publicou o romance "Caranguejo", que tem como característica ter sido escrito de trás para a frente e sem numeração das páginas, ao qual sucedeu, em 1964, "A Torre de Barbela", sucessivamente reeditado, mais recentemente, em 2005, pela Assírio & Alvim.

Na segunda metade da década de 1960 saíram três volumes de cariz autobiográfico sob o título "O Mundo à Minha Procura".

A biografia "D. Pedro V: um homem e um rei!" (1950), "Cores" (1960), livro de contos, "Cartas de D. Pedro V aos seus Contemporâneos (1961), tema da sua tese de licenciatura, "O Outro que era Eu" (1966), "Silêncio para 4" (1973) e "Kaos" (1982), o seu último romance, são outras obras do escritor.

Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas pela Universidade de Coimbra, Ruben A. lecionou no King`s College, de 1947 a 1952, onde foi bolseiro do ex-Instituto de Alta Cultura, e privou com o escultor Henry Moore e o escritor T.S. Eliot.

Depois da atividade letiva na capital britânica, Ruben A. regressou a Lisboa, sob o olhar atento das autoridades da ditadura do Estado Novo.

Foi funcionário diplomático na embaixada do Brasil, durante quase 20 anos, até 1972, altura em que foi nomeado administrador da Imprensa Nacional-Casa da Moeda.

Exerceu ainda as funções de diretor-geral dos Assuntos Culturais do Ministério da Educação e Cultura, surgido após o 25 de Abril de 1974, nos primeiros governos provisórios.

Em 1975 foi convidado para lecionar no Saint Anthony`s College, da Universidade de Oxford, em Inglaterra. Morreu em Londres, três dias depois de ter chegado ao país, em 26 de setembro desse ano.

Foi sepultado no cemitério de Carreço do Minho, Viana do Castelo, onde construíra a sua casa.

No seu túmulo há um poema de sua prima, Sophia de Mello Breyner Andresen.

"Que tenhas morrido é ainda uma notícia desencontrada e longínqua e não a entendo bem. (...) Tudo se passou em planos e projetos, e ninguém poderia pensar em despedida", lê-se na "Carta a Ruben A.".

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