Cristãos no Iraque preparam-se para receber o Papa Francisco

por Carla Quirino - RTP
Thaier al-Sudani - Reuters

Em Mossul, mora Thanoun Yahya, resistente cristão iraquiano. Os militares do autoproclamado Estado Islâmico ocuparam-lhe a casa, durante três anos. É um dos muitos testemunhos de quem sofreu na pele a violência da guerra. Na visita de três dias ao Iraque, com início marcado para a próxima sexta-feira, o Papa fará uma paragem em Mossul. Pretende aproximar-se das comunidades vítimas do conflito, onde igrejas foram usadas como tribunais religiosos pelos islamitas.

Thanoun Yahya, de 59 anos, não apagou a mensagem no portão deixada pelos ocupantes. “O Estado Islâmico perdura”, escreveram.


Foto: Thanoun Yahya à pota de casa | Thaier al-Sudani - Reuters

Esta memória assinala a resistência da minoria cristã que ainda vive em território iraquiano. "Mas não restam muitos de nós. A geração mais jovem quer partir", disse Yahya à Reuters.

No bairro onde mora, só resta a família de Thanoun. Outrora viveram ali mais de 20 pessoas.

"O Papa não nos pode ajudar, apenas Deus pode", disse Yahya, sem deixar de sublinhar que aprecia a visita do Sumo Pontífice da Igreja Católica.

Os cristãos no Iraque chegaram a ser um milhão e meio e eram tolerados durante o Governo de Saddam Hussein.  Após a invasão liderada pelos Estados Unidos em 2003, começou a partida em massa de crentes cristãos.

Em 2004, as minorias religiosas eram sequestradas e executadas pela Al Qaeda e Yahya ainda recorda que teve de vender a serralharia da família para pagar o resgate do irmão.


Igreja cristã Hosh al-Bieaa de Mossul, usada como prisão e tribunal pelo Estado Islâmico| Foto: Thaier al-Sudani - Reuters

Mossul foi convertida em cidade-sede do governo islâmico quando, em 2014, um terço do território iraquiano estava sob domínio do Daesh.

A família de Yahya fugiu para o território curdo a norte do Iraque e foi das poucas que regressou a Mossul depois de o Estado Islâmico capitular às mãos dos militares iraquianos, em 2017. Temem que a história se repita.

Atualmente haverá cerca de 400 mil cristãos no Iraque.

O cardeal Sandri, citado no Vatican News, explica que a viagem do Papa Francisco pretende transmitir uma "mensagem de consolo, de paz, de admiração por tudo o que sofreram". A mensagem solidária não se dirige apenas para cristãos.

"Ele terá palavras poderosas para o Iraque, onde foram cometidos crimes contra a humanidade", sublinha Najeeb Michaeel, arcebispo católico caldeu da cidade de Mossul, citado na France 24.

Francisco pretende que, deste contacto com as diferentes comunidades religiosas, resulte um melhor diálogo cristão - muçulmano. Neste contexto, a agenda do Sumo Pontífice integra um encontro com o principal clérigo xiita, o grande ayatollah Ali Sistani, em Najaf, a sul de Bagdade.


Foto: Poster impresso para anunciar o encontro entre os dois lideres religiosos | Alaa Al-Marjani - Reuters

"É uma visita histórica, o encontro terá um grande impacto, estamos a falar sobre o chefe de uma comunidade religiosa que representa 20 por cento da população mundial", destacou o governador de Najaf, Luay al-Yasserit, citado pela France24.

Francisco foi convidado pelo Presidente Barham Saleh em 2019 e a visita ao Iraque decorrerá até 8 de março.
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