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Escritor Juan Gabriel Vásquez teme impacto de populismos de direita na Colômbia

por Lusa

O escritor colombiano Juan Gabriel Vásquez afirmou hoje que o resultado do processo de paz em curso no país é muito positivo, mas alertou para a ameaça dos novos populismos de direita, que podem comprometer os desenvolvimentos.

Em entrevista com a agência Lusa, no âmbito do encontro Correntes d`Escritas, na Póvoa de Varzim, Vásquez confessou nunca ter sido um otimista, uma posição que considera ter sido corroborada pelo resultado no referendo de outubro, em que 50,2% dos votantes rejeitaram o acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC): "Não há otimismo que valha na história do meu país, onde uma pessoa tragicamente tem sempre o direito de esperar o pior".

"Agora, o que é que acontece? Os acordos de paz começam a ser reais, a implementar-se, e isso está a acontecer com muitos problemas, muito imprevistos, pequenos ou não tanto, há muito que ajustar. O resultado geral parece-me positivo. Parece que isto se está a materializar. No hospital militar, o último soldado ferido teve alta há meses e agora as salas estão vazias. Isto é uma imagem que deve impressionar qualquer pessoa sensível", afirmou Vásquez, que está a passar uma temporada a dar aulas na Suíça.

No entanto, há eleições presidenciais na Colômbia no próximo ano, o que leva o autor de "O barulho das coisas ao cair" a alertar para a possibilidade de os candidatos "mais céticos" do acordo de paz "utilizarem o tema para tirar ganhos políticos".

"Sobretudo, o que temo é essa direita colombiana que vai tentar usar o descontentamento que muitos colombianos sentem para voltar ao poder como parte destes novos populismos de direita que estamos a ver por todo o mundo apoiados pelas mentiras, distorções e desinformação. E isso é assustador. Fizemos um imenso esforço para chegar a este ponto de terminação de um conflito de 50 anos ou mais, que causou tantas mortes e vítimas, e tudo isso poderá danificar-se nos próximos 18 meses se não agirmos corretamente nas próximas eleições", declarou o escritor.

Para Vásquez, que acaba de lançar em Portugal "A forma das ruínas", pela Alfaguara, a Colômbia está "perante uma oportunidade única de virar a página, de fechar um capítulo de violência mediante uns acordos de paz que são vistos como modelo, e representam um precedente usado noutros conflitos internacionais".

"Em Havana estava a negociar-se o fim da guerra entre o Governo e a guerrilha das FARC, [mas] essa paz não era só sobre a guerrilha e o Governo. Era para terminar um conflito que também produziu o paramilitarismo - o fenómeno horrível do paramilitarismo, as piores violações dos direitos humanos - também era negociar o final de ciclos de violência que produziram quantidades imensas de deslocados", declarou o escritor, já distinguido pela Casa da América Latina em Portugal com o prémio de melhor livro publicado em 2016, por "As reputações".

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