Escritor Manuel Vilas atribui sucesso de livro a universalidade da classe média

por Lusa

Póvoa de Varzim, Porto, 24 fev (Lusa) -- O escritor Manuel Vilas, que acaba de se estrear em Portugal com o livro "Em tudo havia beleza", disse à Lusa que o sucesso da obra em Espanha se deveu à "universidade" da classe média.

"A classe média é internacional, é universal. No século XIX, o marxismo falou da Internacional dos Trabalhadores, agora pode-se falar da Internacional da Classe Média", disse Manuel Vilas, à margem da sua participação no encontro literário Correntes d`Escritas, na Póvoa de Varzim.

No livro, editado pela Alfaguara, um narrador que partilha a biografia do próprio autor concebe uma obra que Vilas descreveu como uma "carta de amor" aos pais, a quem lamenta não ter dito quanto os amava enquanto eram vivos.

Questionado sobre se o sucesso do livro, que surgiu em múltiplas listas de melhores do ano em Espanha e foi um fenómeno de vendas, o surpreendeu, Vilas, que tem mais livros de poesia do que de prosa publicados, reconhece que sim.

"Nenhum escritor sabe se um livro vai encontrar o coração dos leitores ou não", disse o escritor.

Manuel Vilas, de 56 anos, explicou que o que abordou foi a relação com os pais, numa geração "que todo o mundo conhece", dentro da classe média.

"Se falasse da aristocracia ninguém teria entendido nada. Mas 95% da Espanha atual procede da classe média, então daí a universalidade da novela. O tema de pais e filhos talvez seja mais importante na literatura que o do amor ou da morte. Está na Bíblia. Na Bíblia, Jesus Cristo está a falar com o pai. Se lhe tirares o tema religioso, a parte transcendental, o que é a Bíblia? É um senhor que fala com o seu pai e pensa que o seu pai o escuta la no céu. É atávico", declara o escritor natural de Barbastro, na comunidade de Aragão.

Manuel Vilas constata que o ser humano "precisa de falar com os seus mortos", desde logo através da ideia do fantasma.

"Desde um ponto de vista antropológico, [o fantasma é algo que permite que] tu continues em ligação com quem veio antes de ti. Com os teus pais, com os teus avós. É a Internet, uma wifi. Sem cabos. A conexão que há entre pais e filhos, entre filhos vivos e pais mortos. Todos os dias me lembro do meu pai e da minha mãe. É uma wifi. E isso passa-se com muitíssima gente, a necessidade de ter presente as tuas pessoas queridas. Porque se não é assim a tua vida desaparece. Todas as lembranças que tenho do meu pai e da minha mãe quero tê-lâs a todo o momento no meu coração", disse o escritor.

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