Estudantes vão ajudar moradores do antigo Casal Ventoso a pintar o bairro

por Lusa

Lisboa, 20 fev (Lusa) - Estudantes do ensino superior de Lisboa vão, na quarta-feira, pintar as entradas dos prédios no Bairro do Cabrinha, antigo Casal Ventoso, em Lisboa, numa ação solidária que pretende ajudar os moradores a melhorar o bairro.

"A ação solidária no Bairro do Cabrinha, na Avenida de Ceuta, pretende alterar o estado da entrada de 10 lotes do bairro, melhorar a sua entrada, o seu espaço comum, de modo a produzir algum efeito mobilizador, de modo a que depois os próprios moradores possam continuar a tarefa e recuperar cada lote", explicou à Lusa Filipe Santos, presidente do Projeto Alkantara, uma das entidades promotoras da iniciativa.

Ao todo são 135 os estudantes, que vão estar divididos em equipas. Depois da intervenção no bairro, vai ser feito um convívio entre os estudantes e os moradores.

"Pretende-se que isto tenha um efeito de bola de neve, para que sejam feitas melhorias no estado dos lotes e para as populações começarem a acreditar que as pessoas que estão fora do bairro não são tão adversárias e [diminuir] o espírito fatalista que estas pessoas, oriundas do antigo Casal Ventoso, têm em relação à sociedade", explicou.

Uma ação semelhante já foi realizada no vizinho Bairro do Loureiro e "a concretização acabou por melhorar um pouco o estado de espírito daquela população".

"Os estudantes vieram, limparam, pintaram, recuperaram as entradas e, neste momento, em 14 lotes, sete estão completamente pintados pelos moradores de alto a baixo", disse, salientando que "no Loureiro já se consegue trabalhar com uma pró-comissão de moradores que nunca existiu antes".

O Projeto Alkantara tem também como objetivo (com o apoio do programa camarário BIP-ZIP, de intervenção em bairros prioritários) desenvolver no território um museu ou um centro de interpretação do Casal Ventoso, um bairro que, se não tivesse sido demolido, teria feito 180 anos em 2017.

"Se nós olharmos para o espaço do Casal Ventoso, não existe rigorosamente nada. E os descendentes de quem viveu lá, de quem morou, de quem casou lá, as crianças, acabam por não ter referências. (...) O que nós gostaríamos é que, através dos relatos, das histórias de vida, das memórias da população mais idosa, que seja possível instalar o núcleo de interpretação do Casal Ventoso", explicou.

Para isso, um grupo da Universidade Nova de Lisboa está a fazer entrevistas coletivas para fazer uma adenda com estas memórias ao livro "Casal Ventoso, da gandaia ao narcotráfico", escrito há 20 anos por Miguel Chaves.

"Sem memórias, a população vai acabar por ficar perdida, como nós, se não tivermos memórias. As pessoas têm de ter memórias. Sem haver passado, é difícil ter presente, quanto mais o futuro", considerou.

Os 135 estudantes participantes são do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, da Associação Académica de Lisboa, da Associação de Estudantes da Faculdade de Motricidade Humana, do Núcleo de Serviço Social da Universidade Lusófona, da Associação de Ação Social da Universidade Lusíada de Lisboa e da Associação de Estudantes do Instituto Superior de Agronomia.

A iniciativa é apoiada pelas Juntas de Freguesia de Alcântara e de Campo de Ourique, pela Santa Casa da Misericórdia, pelo Projeto Alkantara e pela Gebalis, entre outras entidades.

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