EUA. Comediante disfarçado lança o caos em comício de extrema-direita

por RTP
Sacha Baron Cohen, em foto de 2016 Mario Anzuoni, Reuters

Sacha Baron Cohen, o comediante britânico conhecido pela criação de figuras como "Borat", apresentou-se para actuar num comício da extrema-direita e ridicularizou o evento com uma canção racista. Depois, desapareceu nos bastidores.

Cohen tinha-se apresentado aos organizadores com uma identidade falsa, manifestando o desejo de patronciar o comício realizado no passado sábado, em Washington. Desse modo conseguiu um lugar entre os artistas convidados e a prerrogativa de se fazer acompanhar pela sua própria segurança.

Para a actuação, apresentou-se com uma barba postiça e não foi reconhecido. Quando começou a cantar, o público poderá ao princípio ter pensado que a canção era apenas uma forma ingénua, ou no melhor dos casos humorística, de glosar temas que lhe são familiares. Mas, à medida que a actuação progredia, os organizadores mais atentos da milícia neo-fascista não podem ter deixado de notar que estavam a ser ridicularizados.

Com efeito, na letra da canção incluíam-se passagens que apelavam a que o ex-presidente dos EUA, Barack Obama, e o especialista da Casa Branca de combate à pandemia, Anthony Fauci, fossem injetados com o vírus:

"Obama, o que vamos fazer? Injetá-lo com a gripe de Wuhan. Hillary Clinton, o que vamos fazer? Prendê-la como costumávamos fazer. Dr. Fauci, o que vamos fazer? Injetá-lo com a gripe de Wuhan".


"OMS, o que vamos fazer? Fazê-los em picadinho como os sauditas fazem”, continuou Cohen, aplaudido pela multidão.

Mais tarde, o comediante também cantou: "CNN, eles espalham notícias falsas, são controlados por vocês-sabem-quem - George Soros e os seus amigos desagradáveis", referindo-se ao bilionário filantropo judeu que financia várias causas liberais.

Quando se aperceberam de que estavam a ser ridicularizados, os organizadores do comício tentaram expulsar o humorista do local, mas sem sucesso, impedidos pelos seguranças que acompanhavam Cohen.

A dada altura, o público também se manifestou contra o humorista, que foi levado para uma ambulância particular, onde se encontravam os seus seguranças, para abandonarem o local.

James Connor Blair, vereador em Yelm, Washington, disse na sua conta do Facebook estar "indignado" com a "manobra" de Cohen e descreveu a partida do humorista:

"Subiu ao palco disfarçado de vocalista da última banda, cantando várias coisas racistas, odiosas e repugnantes. Os seus seguranças impediram os organizadores de eventos de o tirar do palco ou desligar a energia do gerador. Depois de a multidão se ter apercebido daquilo que ele estava a dizer e se ter virado contra ele, os seus seguranças correram para o palco e levaram-no para uma ambulância particular que foi contratada para ser o transporte de fuga deles".

O humorista Baron Cohen foi homenageado no ano passado pela Liga Antidifamação pelo seu histórico de utilizar o humor para combater o ódio, nomeadamente através da sua série "Who is America?", que satiriza a política norte-americana.
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