Faltam recursos financeiros para a acessibilidade cultural no país

por Lusa

Lisboa, 18 jun (Lusa) - A falta de recursos financeiros para poder trabalhar nas questões da acessibilidade e o incumprimento da lei, são dos principais obstáculos ao desenvolvimento desta área no país, aponta um relatório que foi hoje apresentado em Lisboa.

Intitulado "Jornadas Além do Físico: Barreiras à Participação Cultural - Um Périplo pelas Comunidades Intermunicipais de Portugal", o relatório foi apresentado pela Acesso Cultura - Associação Cultural, na Fundação Calouste Gulbenkian.

Coordenado pela presidente da Associação, Maria Vlachou, o projeto percorreu o país em 2017, e foi sintetizado num documento baseado em inquéritos e fichas de avaliação realizados a 470 profissionais de cultura que trabalham no terreno.

De acordo com o documento a que a Lusa teve acesso, um dos problemas mais apontados é "a falta de recursos financeiros", mas também "a falta de conhecimento e formação nesta área, e a ausência de recursos humanos com capacidade técnica para lidar com estas questões".

"É importante referir aqui que, em muitos casos, não falta consciência ou sentido de responsabilidade [sobre a questão das acessibilidades], mas sim, capacidade financeira", segundo o relatório.

O documento assinala ainda - com base nos inquéritos - a "impossibilidade de atuar em edifícios antigos, históricos", a "falta de políticas e estratégias", assim como a "falta de interesse e a mentalidade à volta destas questões" da acessibilidade.

Os profissionais do sector cultural inquiridos "têm maior consciência da existência de barreiras físicas no acesso aos espaços culturais", no contexto global das acessibilidades.

"No entanto, e para além de a legislação não estar a ser aplicada, é certo também que a reflexão sobre o acesso não vai muito além da questão física e, no caso desta, da necessidade de haver rampas e casas de banho adaptadas", acrescenta o relatório.

Muitos inquiridos realçaram ainda a falta de recursos humanos preparados para trabalhar nestas questões, a falta de conhecimentos e de formação.

Outra conclusão ligada ao aspeto financeiro é apontada no relatório: "Tornou-se igualmente evidente que, em alguns casos, em troca do investimento espera-se um retorno quase imediato".

O relatório é apresentado no âmbito da Semana Acesso Cultura 2018, que começa hoje e decorre até domingo para abrir ao público portas de instituições, promover debates e entregar prémios de boas práticas na área da acessibilidade cultural, segundo a organização.

A Acesso Cultura, Associação Cultural, criada em 2013, realizou no ano passado, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, as jornadas "Além do Físico: Barreiras à Participação Cultural" em todas as Comunidades Intermunicipais do país (21) e nas Regiões Autónomas (2).

Excluíram do projeto as duas áreas metropolitanas - Lisboa e Porto -, onde a Acesso Cultura tem uma presença mais permanente e intensa, justificou a organização.

O objetivo da associação, com este relatório, é: "Deixar um registo do que aprendemos e do que os participantes partilharam connosco -- por via de inquéritos e fichas de avaliação, mas também na discussão que teve lugar nas próprias jornadas".

O projeto envolveu seis entrevistas com os responsáveis de projetos que estão a ser desenvolvidos em vários pontos do país, nesta área, nomeadamente o projeto do Museu Nacional de Machado de Castro, dirigido a pessoas com Alzheimer e aos seus familiares, em curso desde desde 2011, ou o Festival Walk&Talk, em Ponta Delgada, Açores, que incentiva a criação artística em diálogo permanente com o território, a cultura e a comunidade açoriana.

Globalmente, os profissionais que participaram concluíram que o projeto das jornadas contribuiu para "ganhar uma visão mais alargada sobre o acesso, com uma outra consciência".

Na quarta-feira, serão entregues os Prémios Acesso Cultura 2018, que distinguem as boas práticas na área da acessibilidade cultural, às 18:30, na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa.

Ao longo dos anos, a Acesso Cultura tem vindo a promover várias iniciativas, desde formação a debates, e as chamadas "Sessões Descontraídas" - sessões de teatro, dança, cinema ou outro tipo de oferta cultural, que decorrem numa atmosfera "com regras mais tolerantes" quanto "a movimento e barulho na plateia", dirigidas a públicos com necessidades especiais.

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