Grande Prémio Europa Nostra dá força ao trabalho em territórios rurais

por Lusa

O coordenador da Binaural Nodar, Luís Costa, disse hoje que a atribuição do Grande Prémio Europa Nostra ao projeto Rede Tramontana III, que a associação portuguesa lidera, dá força ao trabalho de permanência nos territórios rurais.

O prémio ajudou "a perceber que as pequenas organizações que se dedicam ao património cultural rural, e que trabalham em colaboração à escala europeia, podem produzir resultados relevantes e de elevado impacto", afirmou o responsável, no anúncio do prémio, citado pelo comunicado hoje divulgado pelo Centro Nacional de Cultura, que em Portugal representa a organização Europa Nostra.

O projeto Rede Tramontana III, liderado pela Associação Cultural Binaural Nodar, da região Dão Lafões, que hoje venceu o Grande Prémio Europeu do Património Cultural/Europa Nostra 2020, junta organizações de Portugal, Espanha, França, Itália e Polónia.

"O prémio é também uma homenagem às comunidades rurais europeias e às suas memórias, mostrando que os países europeus ainda têm uma ligação material e simbólica profunda com os seus territórios rurais", prosseguiu Luís Costa.

"O prémio dá visibilidade à importância do arquivo digital como ferramenta para desenvolver um conhecimento profundo sobre o tecido social da Europa", concluiu o responsável, segundo o comunicado da organização.

O projeto tem por objetivo o "estudo aprofundado do património imaterial de comunidades rurais e de montanha, europeias", de modo a "salvaguardar e revitalizar esse património através da sua documentação e ampla divulgação".

Tramontana III tem como parceiros Audiolab, de Espanha, Nosauts de Bigòrra, Numériculture Gascogne e Eth Ostau Comengés, de França, Bambun e Associazione LEM-Italia, de Itália, e a Akademia Profil, da Polónia, além da portuguesa Binaural Nodar, que o coordena.

Em 2018, o projeto foi distinguido pela Comissão Europeia como "Caso de Sucesso", no contexto do Ano Europeu do Património Cultural.

Hoje, a Europa Nostra realçou que "as comunidades rurais montanhosas em toda a Europa têm um património cultural - tangível e intangível - extremamente rico e diversificado".

"A natureza transfronteiriça e cooperativa do projeto Rede Tramontana III é um forte exemplo da importância da pesquisa como motor para equipar essas comunidades com as ferramentas necessárias para preservar e celebrar o seu património", sublinhou a Europa Nostra.

Em maio, quando da atribuição do prémio Europa Nostra que candidatava o projeto ao Grande Prémio, Luís Costa sublinhou à Lusa os anos de trabalho em conjunto, com os diferentes parceiros do Tramontana III: "São muitos anos a trabalhar juntos [desde 2012], na valorização dos territórios rurais, que são um bocadinho esquecidos em termos de discurso europeu", disse então.

Tem havido uma "filosofia de trabalho permanente no território, com ateliers, residências, recolhas, criações artísticas em muitas aldeias e contacto permanente porta a porta, conhecendo as pessoas individualmente", disse o responsável, sobre o projeto.

"Este tipo de filosofia permanente é o fator mais importante", frisou, acrescentando que tem sido desenvolvida "em estreita parceria com os municípios".

As ações da Binaural, no âmbito deste projeto europeu, centraram-se em quatro concelhos da região de Viseu Dão Lafões: Viseu, Vouzela, Castro Daire e São Pedro do Sul, nos quais foram desenvolvidas dezenas de iniciativas.

A distinção pela Europa Nostra surgiu numa altura em que a associação tinha perdido o financiamento da Direção-Geral das Artes, na sequência dos concursos de 2019.

"Foi um choque bastante grande [não receber o apoio]", disse então. "Vamos conseguindo sobreviver com outro tipo de financiamentos. Há pessoas que ainda não percebem exatamente o que é nosso trabalho, talvez este prémio possa ajudar a que isso possa acontecer de forma mais profunda", afirmou.

A associação portuguesa, criada em 2004, com sede em Vouzela, no distrito de Viseu, e com a aldeia de Nodar, de São Pedro do Sul, no seu nome, atua nas áreas da arte sonora, de criação multimédia e de documentação audiovisual de património, assim como nos campos da educação sonora e de produção para rádio e de edição (publicações `online` e em suporte físico, como livros, CD, DVD).

Em década e meia de trabalho, a Binaural Nodar acolheu perto de duas centenas de artistas e investigadores, produziu dezenas de obras próprias e difundiu o seu trabalho em diversos países da Europa, América e Ásia, de acordo com a sua apresentação na página da Direção-Geral das Artes.

Além da Rede Tramontana, a Binaural Nodar faz ainda parte das redes europeias Soccos, de residências artísticas em arte sonora, e da Rede SusPlace, de pesquisa multidisciplinar na área dos processos de sustentabilidade social de territórios locais.

A associação é ainda parte da Rede Cultural Viseu Dão Lafões, com o Teatro Viriato, a Associação Cultural e Recreativa de Tondela (ACERT), o Cine-Clube de Viseu e o Teatro do Montemuro.

O projeto Rede Tramontana III foi financiado em 60% pela Europa Criativa da União Europeia. O restante financiamento é assegurado pelos parceiros.

O júri do Prémio Europa Nostra considerou que o projeto "é um excelente exemplo de cooperação internacional entre investigadores com experiência em diversas áreas de estudo. A metodologia usada no projeto é replicável noutros contextos europeus e tem potencial para ser aplicada em todo o continente".

O Grande Prémio Europeu do Património Cultural/Europa Nostra 2020 distinguiu também a reabilitação da Basílica de Santa Maria di Collemaggio, em Aquila, Itália, e a exposição "Auschwitz. Não há muito tempo. Não muito longe", um projeto polaco-espanhol que assinalou o 75.º aniversário da libertação do maior campo de concentração nazi.

O anúncio do Grande Prémio Europeu do Património Cultural/Europa Nostra 2020 realizou-se hoje, em modelo virtual, com a participação da comissária europeia para a Inovação, Investigação, Cultura, Educação e Juventude, a búlgara Mariya Gabriel.

 

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