João Maria Gusmão e Pedro Paiva expõem na Oliva "animais que ao longe parecem moscas"

por Lusa

S. João da Madeira, Aveiro, 23 mar (Lusa) - "Os animais que ao longe parecem moscas" é a exposição que é iaugurada no sábado, na Oliva Creative Factory, em S. João da Madeira, com objetos de bastidores dos filmes realizados por João Maria Gusmão e Pedro Paiva.

Os dois artistas levam assim ao Núcleo de Arte da Oliva mais de 40 peças que definem como "um conjunto de ventos, eletrodomésticos, seres e coisas recolhidas nos bastidores dos filmes" que vêm dirigindo.

Muitas dessas peças são "inéditas", sendo que a mostra incluirá não apenas filmes e esculturas cinéticas, mas principalmente "objetos e artefactos que ora foram protagonistas, ora serviram como figurantes", nos filmes que a dupla realizou ao longo dos últimos 15 anos, e com os quais consolidou a sua presença em relevantes circuitos expositivos internacionais.

"Mas não se pense que não haverá cinema ou, tão-pouco, a fantasmagoria do celuloide", declaram os artistas num texto enviado à agência Lusa. "Se bem que a mostra ofereça sobretudo objetos mais ou menos sólidos, promete-se que nos subtis movimentos dos espíritos das coisas ver-se-ão fantasmas", referem.

João Maria Gusmão (1979) e Pedro Paiva (1978) desenvolvem desde 2001 uma parceria artística para criação de objetos, instalações, fotografias e curtas-metragens.

Em 2015, o jornal britânico The Guardian apontou-os como autores de uma das dez melhores exposições do ano (pela mostra "Papagaio", que esteve patente em Milão, Berlim e Londres) e o Art Newspaper destacou-os como criadores em ascensão no panorama artístico internacional.

Selcionados diversas vezes para representar Portugal na bienal de S. Paulo e também na de Veneza, onde foram inclusivamente dos mais jovens participantes nacionais de sempre, os dois artistas procuram explorar nos seus objetos e narrativas a fusão possível entre arte e ciência.

O título da mostra agora a inaugurar na Oliva é uma alusão à obra "Outras Inquisições", em que o escritor argentino Jorge Luís Borges conta que a enciclopédia chinesa "Empório Celestial de Conhecimento Benévolo" não se limitava a classificar os animais apenas como vertebrados e invertebrados, antes os distribuindo por categorias como as dos embalsados, amestrados, fabulosos e dos que "ao longe parecem moscas".

No espaço da antiga fábrica da metalúrgica Oliva, o espetador será assim conduzido por um conjunto de quatro palcos em que poderá observar um determinado grupo de peças e testemunhar, "sem mediações ou outros constrangimentos, alguns dos desconcertantes fenómenos" revelados por João Maria Gusmão e Pedro Paiva.

À semelhança dos animais guardados "nos museus de História Natural ou na Monalisa", os artefactos que a dupla recolheu para a Oliva deverão encarar o visitante "como se estivessem vivos". Será "uma exposição de `zombies`", admitem os artistas.

A mostra "Os animais que ao longe parecem moscas" é inaugurada este sábado, às 18:30. Estará patente ao público até final de agosto.

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