Monólogo de João Samões no Teatro Carlos Alberto retrata Louis-Ferdinand Céline

por Lusa

A peça de teatro "O poeta acorrentado à mesa", escrita, encenada e interpretada por João Samões, vai estar em cena de quinta-feira a domingo, no Teatro Carlos Alberto, no Porto, mostrando "uma descrença total na humanidade".

A récita é uma inspiração da vida e obra do escritor francês Louis-Ferdinand Céline, autor de "Morte a Crédito" e "Viagem ao Fim da Noite", cuja escrita é capaz de "fazer tremer toda a vida inteira", e que João Samões transformou numa representação que expressa "uma descrença total na humanidade, na vida e nas pessoas".

Sozinho em palco, sentado à secretária, com uma máquina de escrever e um crocodilo, ao fundo, que surge com o avançar da encenação, João Samões desenvolve uma narrativa em que, não pretendendo "transmitir mensagens, cria objetos que agitem".

Num trabalho a três tempos (em que assinou o texto, encenou e é o único ator em cena), João Samões disse ter-se sentido confortável: "O meu trabalho é sempre de autor, mesmo quando contrato intérpretes sou que eu faço as peças, que estruturo as partituras, pelo que estou habituado a monólogos e a estar sozinho. Agrada-me essa solidão".

"O poeta acorrentado à mesa" é o segundo ato do tríptico inspirado em três autores, que se iniciou em 2016 com "Hotel Lousiana, Quarto 58", dedicado ao egípcio Albert Cossery, o autor de "Os Homens Esquecidos de Deus" e "As Cores da Infâmia".

O terceiro e último momento, do projeto que Samões espera concretizar, será um trabalho que terá como mote a obra do norte-americano Paul Bowles, o escritor de "O Céu que nos Protege" e "Memórias de um Nómada".

João Samões disse ter "estudado durante dezoito meses" a obra de Louis-Ferdinand Céline para "construir uma partitura" e que "há 10 anos que já não ia a palco".

"Tudo o que escolhi e aglutinei para criar uma pauta e uma partitura é o ponto [em que se encontra] a minha vida, sem a menor dúvida", revelou o ator quando questionado se encontrava pontes entre a obra de Céline e o momento que atravessa na sua vida.

Na peça, o encenador "desafia o espetador a habitar a vertigem do universo de Céline, de condensar a energia do poder transformador das suas palavras, que são capazes de `fazer tremer toda a vida inteira`".

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