Oito pequenos objetos com quase cinco mil anos, roubados no Iraque em 2003 e levados para Londres, estão de regresso ao Museu de Bagdade. O episódio envolveu uma benéfica coincidência, uma vez que no momento da identificação da origem exata dos artefactos uma equipa do Museu Britânico estava em missão no local da escavação arqueológica de onde foram roubados.
As oito peças – que terão chegado a Londres semanas após o fim do regime de Saddam, - foram apreendidas pouco depois na casa de um negociante, que não tinha qualquer documento nem as reclamou. Os objetos foram levados para o Museu Britânico, para análise dos peritos, que leram nas próprias peças as suas origens.
Entre as peças, três cones em terracota com inscrições em baixo relevo continham o nome do rei que os mandou fazer, da divindade a que foram dedicados e do tempo a que pertenciam. No caso, os cones com “funções mágicas” foram construídos a pedido do Rei Gudea para o deus Ningirsu e enterrados no templo situado em Tello, antiga vila suméria de Girsu, no Sul do Iraque.
“O que é excecional é que quando a polícia enviou esses objetos ao Museu Britânico para identificá-los, estávamos revistando o templo de onde foram levados", sublinhou à France Presse Sébastien Rey, diretor do sítio arqueológico de Tello e curador.
"Poderíamos ter adivinhado que esses objetos vieram do sul do Iraque, mas ligá-los a esse local específico, e até a buracos particulares, é extremamente raro", declarou. De facto, a equipa de Rey conseguiu encontrar os buracos de onde foram removidos os artefactos.
No Iraque, os arqueólogos recuperaram outros cones, partidos ou danificados, abandonados por saqueadores. Eram idênticos aos cones achados pela polícia britânica, continham as mesmas inscrições e haviam sido encontrados nas paredes do templo de Tello.
Além dos cones, foram apreendidos um amuleto em mármore branco, com a representação de um touro, datado de 3.000 a.C. e um selo em mármore vermelho da mesma época que se utilizava como amuleto. Foi ainda apreendida um pequeno seixo com registos da escrita suméria mais arcaica, uma dedicatória ao deus da água.
O templo é agora guardado por uma tribo. As equipas francesas que trabalharam no local desde finais do seculo XIX até 1920, encontraram os cones na década de 1870.
Cooperação para dificultar a vida a saqueadores
Os objetos são esta sexta-feira entregues ao embaixador do Iraque no Reino Unido, que os vai encaminhar para o Museu de Bagdade.
Salih Husain Ali agradeceu ao Museu Britânicos pelos “excecionais esforços de identificação e devolver as antiguidades saqueadas ao Iraque”.
O Museu Britânico tem fornecido treino a arqueólogos iraquianos e conservadores, trabalhando em conjunto nos sítios arqueológicos. “Tal colaboração entre o Iraque e o Reino Unido é vital para a preservação e proteção do património iraquiano”, acrescentou o embaixador.
Segundo o diretor do Museu Britânico, Hartwig Fischer, o regresso das peças é “um símbolo das muito sólidas relações de trabalho com os nossos colegas iraquianos desenvolvidas nos últimos anos”.
O comércio ilícito de antiguidades prospera com a dificuldade em traçar as origens de pequenas peças e em definir a data em que deixaram o país. Muitas peças foram vendidas sem os registos de proveniência.
Os especialistas do museu querem aplicar o mesmo método para criar mapas de locais específicos e dos tipos de antiguidades, para conseguir detetar mais facilmente a origem das peças.
Tópicos