Músico da Brigada Vitor Jara realça trabalho de renovação da música portuguesa

por Lusa

Coimbra, 19 nov 2019 (Lusa) -- O violinista Manuel Rocha realçou os contributos de José Mário Branco, falecido hoje aos 77 anos, para a renovação da música portuguesa enquanto compositor, produtor e poeta.

"José Mário Branco era também um grande conhecedor da música tradicional", disse à agência Lusa o músico da Brigada Victor Jara, amigo do criador de "Ser Solidário".

Manuel Rocha salientou a importância de José Mário Branco, que morreu durante a noite, em Lisboa, na criação do Grupo de Acção Cultural (GAC), que, após o 25 de Abril de 1974, desenvolveu um trabalho que aliava a recriação da música tradicional à intervenção política, tendo publicado diversos discos da coleção "Vozes na Luta".

O também professor do Conservatório de Música de Coimbra recordou "os encontros e conversas" que os elementos da Brigada Victor Jara mantiveram com José Mário Branco nas últimas décadas, em concertos ou quando o grupo preparava a edição de novos álbuns.

"José Mário dormiu muitas vezes em minha casa e a conversa ia habitualmente pela noite fora", afirmou.

O violinista salientou que o autor de "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades", primeiro álbum a solo de José Mário Branco, gravado em Paris, em 1971, "foi um compositor que influenciou" outros artistas, designadamente Amélia Muge e os fadistas Camané e Kátia Guerreiro, tendo produzido o último álbum desta, "Sempre", em 2018.

"Fica a ideia de um grande músico e compositor, um homem austero, mas afável. O tal homem dos sete instrumentos", que, além do GAC, teve papel de relevo na Cooperativa Era Nova e na União Portuguesa de Artistas de Variedades (UPAV), adiantou.

José Mário Branco "foi um belíssimo poeta e esteve igualmente muito ligado ao teatro", acrescentou Manuel Rocha, lembrando ainda "o potencial enorme que também teve na produção de vários discos do Zeca Afonso", antes e depois da Revolução dos Cravos.

Nascido no Porto, em 1942, José Mário Branco é considerado um dos mais importantes autores e renovadores da música portuguesa, sobretudo a partir do final dos anos 60, quando estava exilado em França, e durante o período revolucionário.

O seu trabalho estende-se também ao cinema e ao teatro.

Compôs para peças como "A Mãe", sobre Bertolt Brecht e Maximo Gorki (levada à cena na Comuna), que daria origem a um dos seus álbuns, e para filmes como "Até Amanhã, Mário", de Solveig Nordlund, e "Três Menos Eu", de João Canijo, assim como para "Agosto" e "Ninguém Duas Vezes", de Jorge Silva Melo, que também interpretou.

Regressado a Portugal, após 25 de Abril, foi fundador do GAC, politicamente próximo da antiga União Democrática Popular (UDP),fez parte da companhia de teatro A Comuna, fundou o Teatro do Mundo e a UPAV.

Em 2018, José Mário Branco completou meio século de carreira, tendo editado um duplo álbum com inéditos e raridades, gravados entre 1967 e 1999.

A edição sucede à reedição, no ano anterior, de sete álbuns de originais e um ao vivo, gravados de 1971 a 2004.

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