O "coração de amor" entre Paris e Lisboa é de Joana Vasconcelos e já bate no 18.º bairro

por Lusa

O 18.º bairro, zona limítrofe da capital francesa, recebeu hoje o "Coração de Paris", de Joana Vasconcelos, "com amor" e uma festa popular, para mostrar que a arte aproxima, é de todos e não se limita às zonas mais ricas.

"Que ideia é esta de que nos bairros mais ricos pode haver gente que conhece arte, e que os outros [bairros] não vão gostar? Toda a gente gosta de arte. Este coração traz beleza, traz a possibilidade de reunião e de os habitantes amarem a arte", disse à agência Lusa o vereador da Cultura da Câmara de Paris, Christophe Girard.

Segundo o vereador, este coração é a resposta ao célebre fado de Amália Rodrigues "Lisboa não sejas francesa", e simboliza mesmo "não só o amor franco-português", mas a Europa. "Joana [Vasconcelos] é uma das expressões mais interessantes desta Europa inteligente, que cria, que partilha e imagina. Ela fez um gesto de amor a Paris, a um Paris popular", acrescentou.

A obra de 3.800 azulejos vermelhos pintados à mão, que tem movimento rotativo e é iluminado como um bater de coração, foi instalado na Porte de Clignancourt no âmbito das obras de alargamento do metro de superfície, tendo um custo total de 650 mil euros.

O "Coração de Paris" foi ligado pela primeira vez por volta das 19:00 de hoje (hora local, na capital francesa), e a banda de baile começou a tocar "Sous le ciel de Paris", música imortalizada por Edith Piaf e outros artistas franceses, fazendo coincidir a inauguração com o Dia de S.Valentim.

A Porte de Clignancourt situa-se no 18.º bairro, na periferia da cidade, e está longe dos roteiros mais `chiques` de Paris.

Foi aqui que nasceu a artista portuguesa, em 1971, quando os pais viviam em França e a ditadura cumpria os últimos anos em Portugal. A obra teve o aval dos habitantes, um facto decisivo para a escolha.

"Foi um ponto importante, porque este bairro faz parte dela também [de Joana Vasconcelos]. Quem poderia representar melhor a nossa imagem? Ela é a nossa senhora do coração", afirmou Nadia Benakli, que integra uma das associações de habitantes dos 18.º bairro, que visitou o atelier de Joana Vasconcelos antes de a obra estar pronta.

Joana Vasconcelos esteve ausente desta inauguração devido a conflitos de agenda, com a montagem da exposição na Fundação de Serralves, no Porto, "I`m your mirror", que abrirá ao público na próxima semana, depois da apresentação em Bilbao, no verão do ano passado.

Mais do que uma afirmação de amor, esta é uma afirmação do próprio bairro face a uma cidade com realidades muito diferentes.

"Não gosto que se faça esta diferença" entre ricos e pobres, disse por seu lado Zoubida Levy, que também representa os habitantes do 18º bairro. "Falamos das portas de Paris como bairros pobres, mas somos ricos noutras coisas", acrescentou a moradora, em declarações à agência Lusa.

No coração de Joana Vasconcelos cabe igualmente toda a comunidade portuguesa da cidade: "Quando uma artista tem uma obra desta importância em Paris, entra na história de Paris. Quando uma artista portuguesa tem uma obra numa praça emblemática então entra toda a comunidade portuguesa, mais uma vez, na história desta cidade, mas através da vertente artística. É também uma forma de recuperar algum atraso, não faz sentido que a cultura portuguesa não esteja presente com mais regularidade" na capital francesa, disse à Lusa Hermano Sanches Ruivo, luso-descendente e vereador para os Assuntos Europeus da Câmara Municipal de Paris.

Para habitantes e responsáveis urbanos, a ideia é agora que o "Coração de Paris" se torne um símbolo do bairro, que os noivos se casem na Câmara Municipal e utilizem esta obra como pano de fundo para fotografias; que esta obra seja também um ponto de reunião para encontros (amorosos ou não) nesta parte de Paris.

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