O Portugal colonial e a ditadura pelas memórias de infância de Cucha Carvalheiro

por Diana Palma Duarte

No palco do São Luiz Teatro Municipal a atriz Cucha Carvalheiro apresenta um elenco que interpreta personagens inspiradas nas pessoas da sua família e infância.

As tias, a mãe, o pai e um padre missionário evocam os verões vividos na casa da avó ao mesmo tempo eram informadas por carta ou pela velha telefonia das notícias da guerra colonial em África.

A peça intitula-se "Fonte da Raiva", terra perdida no norte de um Portugal cinzento, na qual 5 irmãs inventam uma vida.

Sem companhia para dançar, encantam-se com os aerogramas recebidos por correio e divertem-se a ouvir " A voz da Saudade", rubrica da rádio que transmite as mensagens dos tropas portugueses em missão pela pátria.

No meio, uma presença que nunca se vê, a da pequena Amélia, criança que brincava por ali, entre a natureza e os presentes das tias e que afinal de contas é mesmo a personagem na qual a autora e encenadora Cucha Carvalheiro se auto-representa.

Neste espectáculo auto-biográfico, dá-se voz "a temas fraturantes", como conta à RTP a autora, como "o racismo estrutural", a ditadura, as mortes de soldados e as prisões de ativistas políticos.

O ator Bruno Huca veste a pele de pai da pequena Amélia, mais conhecido por Zé Café, um mestiço nascido em Portugal e estudante em Coimbra que vai ganhando consciência política e aversão ao sistema.

Bruno é também filho de mãe moçambicana e pai português. Viveu até aos 18 anos entre Moçambique e Lisboa até parar de vez no Conservatório para estudar teatro na capital.

Diz que a história, apesar de mostrar " o Portugal da miséria, ao mesmo tempo também mostra que há este lugar "onde" a procura pela felicidade mantinha as pessoas vivas".

" Era muito o que dizia a minha mãe : nós éramos pobres, miseráveis mas não sabíamos".
pub