Remix Ensemble leva à Casa da Música obras que desafiam público a participar

por Lusa

O Remix Ensemble apresenta hoje, na Casa da Música, no Porto, obras de Philip Venables e Oscar Bianchi, em estreia nacional, criadas para desafiar a forma como a música se relaciona com o público, durante uma atuação.

"The Gender Agenda", do compositor britânico, e "Orango", do italo-suíço, foram criados no âmbito do projeto europeu "Connect", da Fundação Art Mentor, da cidade suíça de Lucerna, com vista à exploração de "novos caminhos na comunicação da música com o público".

Pelas 19:30, o Remix Ensemble, dirigido por Pedro Neves, junta-se ao agrupamento eletrónico Digitópia Collective, a uma turma de teatro do Balleteatro, ao Coro Sénior da Fundação Manuel António da Mota e ao Psiquê - Grupo de Teatro do Hospital de Magalhães Lemos, além da atriz Raquel Couto, para interpretar as duas obras escolhidas para 2018.

Em "The Gender Agenda", peça criada para ensemble, vídeo e coro comunitário por Venables, que conta com o coro do 11.º ano de Teatro do Balleteatro, os membros do público são transformados "em candidatos de um concurso televisivo", numa peça de forte teor político, aponta a apresentação do espetáculo.

Elementos da plateia serão convidados a participar nas várias atividades apresentadas em torno da atuação do Remix, numa mistura entre concerto e teatro que convida o público a envolver-se em 'vox pop', entrevistas e outras atividades em palco, num "concurso televisivo" em que uma equipa feminina compete com uma masculina, "questionando, de modo irónico e muitas vezes sarcástico, as questões de género".

Nascido em 1979, Philip Venables sempre incluiu questões de género, política e violência nos seus trabalhos, tanto em composições originais como nas colaborações e encomendas, das quais a primeira adaptação operática de "4.48 Psychosis", a peça da dramaturga Sarah Kane (1971-1999), para a Royal Opera, em 2016, é o maior destaque.

Por outro lado, em "Orango", a participação do público assume-se como ainda mais importante, e a Casa da Música assevera que, não existindo interação, "o concerto não vai correr bem", uma garantia que o próprio artista também deixou, em entrevista com o projeto Connect, explicando que a peça só existe "com o envolvimento da plateia".

Antes do começo, o público é convidado a participar numa oficina que o prepara "para algumas formas de fazer música com o ensemble: a usar a voz (não apenas no sentido vocal), a tocar com objetos do quotidiano ou a brincar com os instrumentos musicais".

O resultado é uma partilha da música como "muito mais do que manipular alturas e dinâmicas", mas um ato performático no qual, explicou Oscar Bianchi na mesma entrevista, se evita "que a audiência tenha qualquer tipo de função ornamental".

"Decidi fazer a audiência em si o centro do espetáculo. Tanto o conteúdo musical como as estruturas serão da responsabilidade da audiência em várias ocasiões. Juntamente com os músicos, também serão, a nível físico, parte de um corpo alargado de 'performers'", acrescentou.

O italo-suíço explicou ainda estar a trabalhar "num modelo formal e composicional que aponta para abraçar e celebrar todos os protagonistas, tanto o ensemble como os artistas", sendo que em "Orango" tanto o Coro Sénior como o Psiquê assumem parte fundamental na partilha do momento musical com o público.

O Remix Ensemble faz parte do programa lançado pela Fundação Art Mentor em 2015, a par da London Sinfonietta, a Asko Schonberg, de Amesterdão, e o Ensemble Modern, de Frankfurt, fazendo parte de um projeto "desenhado para explorar a relação entre a plateia e o artista".

Em 2016, foram apresentadas obras do britânico Christian Mason e do chinês Huang Ruo, na primeira edição, com o novo ciclo a apresentar Venables e Bianchi, cujas obras se estrearam no Frankfurt LAB em 22 de abril último.

 

Tópicos
pub