Uma viagem pelo trabalho operário e suas lutas na quinta e na sexta-feira em Coimbra

por Lusa

Uma viagem pela emancipação do trabalho operário, com inspiração nos têxteis do Vale do Ave, é apresentada na quinta e na sexta-feira no Teatro Académico de Gil Vicente, Coimbra, depois da estreia no Teatro Nacional D. Maria II, Lisboa.

Interpretada por Beatriz Wellenkamp, Celso Pedro, Hugo Inácio, Joana Pupo e Sara Jobard, "Eu uso termotebe e o meu pai também", de Ricardo Correia, autor do texto e da encenação, a partir de testemunhos reais, e tem espaço cénico e figurinos de Filipa Malva e movimento de Rita Grade.

Além dos intérpretes e do encenador, a investigação e documentação mobilizou também Celso Pedro Emanuel Botelho, Filipa Malva, Joana Brites e Rita Grade.

A peça é uma coprodução do Nacional D. Maria II, com o Teatro Académico Gil Vicente, de Coimbra, o Teatro Aveirense e o Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães.

"Como se transmite a memória do trabalho? Em `Eu uso termotebe e o meu pai também` investiga-se os processos de transmissão do trabalho em Portugal. Este e´ um espetáculo que parte da recolha de testemunhos em comunidades de operários fabris de várias cidades portuguesas, transfiguradas pelas ruínas dessa indústria e que aguardam ainda um novo El Dorado. Ao desenhar um arco sobre a história e as contradições do trabalho, reflete-se sobre a condição de operário e a sua emancipação até aos dias de hoje", lê-se na sinopse do trabalho.

Testemunhos de perto de 20 pessoas - operários fabris, empresários, sindicalistas e sociólogos --, gravados e passados para papel foram a base desta peça que a Casa da Esquina, companhia de Coimbra, apresenta agora nesta cidade, num gesto de "desenterrar o passado e trazê-lo para a memória dos nossos dias", explicou o autor e encenador, Ricardo Correia, por ocasião da estreia.

"Desenterrar e voltar a mostrar [aquela realidade industrial] para que continue viva", é como Ricardo Correia define o "gesto artístico" da peça que serve também para investigar os processos de transmissão do trabalho em Portugal, em que, muitas vezes, as profissões passam de pais para filhos.

"De certa forma, essa realidade continua viva, porque as pessoas vivem ao lado das fábricas que faliram, vivem à volta desses monstros abandonados, e quase não fazem o luto disso, porque é o quotidiano", sublinhou Ricardo Correia.

Alguns móveis tapados com panos brancos, uma piscina insuflável, que servirá para simular tempos de férias de operários, e um ecrã onde, de quando em vez, são projetadas imagens de trabalhadores ou de fábricas já extintas, compõem o cenário da peça em que cinco atores vão debitando os testemunhos recolhidos junto dos inquiridos.

O Vale do Ave e o declínio da indústria têxtil são assim pano de fundo de "Eu uso termotebe e o meu pai também", uma peça que acaba por desenhar a história e as contradições do operariado, e invocar as lutas por melhores condições de trabalho.

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