5G. Ativação nos aeroportos dos EUA afetada por receios de interferência com aviões

por RTP
Um aparelho da Southern Airlines em aproximação ao aeroporto de La Guardia em Nova Iorque Reuters

As autoridades norte-americanas para a aviação civil exigiram ajustamentos em torno dos aeroportos às empresas dos Estados Unidos que se preparavam para activar esta quarta-feira a tecnologia 5G, de forma a afastar qualquer interferência das frequências rádio utilizadas pelas operadoras nos instrumentos de bordo.

A At&T, uma das visadas, já anunciou que vai adiar a ativação do serviço "nos arredores de alguns aeroportos" em solo norte-americano de forma a evitar o "caos" potencial receado pela FAA, a agência federal da aviação civil norte-americana. A empresa, tal como a operadora Verizon, tinha marcado para dia 19 de janeiro a ligação nos Estados Unidos da rede 5G de internet ultra-rápida.

Em causa estão o motor, sistemas de travagem e instrumentos de navegação aérea que poderão ser bloqueados pelas frequências 5G na transição para o modo de aterragem, o que iria impedir os aparelhos de parar na pista.

Uma diretiva publicada na semana passada pela FAA requereu que "as tripulações estejam cientes destes riscos e adotem procedimentos específicos de segurança ao aterrar" em determinadas pistas.

A rede de alta velocidade 5G utiliza uma banda de frequência similar às usadas nos rádiosaltímetros dos aviões para levantar e pousar. A FAA, Administração Federal para a Aviação, validou a utilização de certos modelos de radioaltímetros e deu o aval para a ativação da rede 5G em 48 dos 88 aeroportos americanos diretamente afetados por riscos de interferência, tendo imposto restrições nalguns casos.

Após estes alertas, várias companhias internacionais suspenderam esta terça-feira voos com destino aos Estados Unidos e outras transportadoras, incluindo a japonesa All Nippon Airways, ANA, anunciaram o cancelamento ou desvio de aviões destinados a aeroportos norte-americanos, citando a incerteza devido à ativação dos serviços 5G.

Apanhado de surpresa na polémica, o Governo dos Estados Unidos deu prioridade à segurança.

"O nosso objetivo é claro: encontrar uma solução quanto à ativação da rede 5G de forma a manter o grau de segurança mais elevado minimizando ao mesmo tempo perturbações para o tráfego de passageiros", reagiu o porta-voz da Casa Branca em conferência de imprensa.

Além da ANA, a Air India e os Emirados cancelaram a maioria dos seus voos em aparelhos Boeing 777 de e para os EUA esta semana, alegando um aviso por parte da Boeing, enviado às empresas por correio eletrónico, quanto à operacionalidade dos instrumentos de bordo destes aparelhos.

Segunda-feira, os presidentes de 10 associações de transporte aéreo avisaram que a ativação da rede poderia interferir com os equipamentos e apelaram às autoridades, a intervirem "imediatamente" de forma a impedir "uma grande perturbação operacional para os passageiros, os transportadores, as cadeias de distribuição e a entrega de bens médicos essenciais".

Em resposta, a FAA afirmou em comunicado "continuar a garantir que o público está seguro à medida que as operadoras ativam a 5G". "A FAA continua a trabalhar com a indústria de aviação e empresas de internet para tentar limitar atrasos de voos e cancelamentos relacionados com a 5G".

Neste contexto, a AT&T, que tem vindo a adiar sucessivamente a ativação da sua rede 5G desde dezembro, "aceitou voluntariamente diferir temporariamente a ativação de um número limitado de torres em torno de certas pistas de aeroportos", conforme um comunicado.

A decisão deve-se à vontade da empresa "prosseguir a colaboração com a indústria aeronáutica e a FAA" e fornecer-lhes "a mais ampla quantidade de informações" sobre a nova tecnologia, lamentando ao mesmo tempo que as autoridades só agora tenham reagido a estes desenvolvimentos, anunciados há pelo menos dois anos.

"Estamos frustrados devido à incapacidade da FAA de fazer aquilo que quase 40 países fizeram, ou seja, implementar com toda a segurança a tecnologia 5G sem perturbar os serviços aéreos", sublinhou no seu comunicado.

A Verizon tem ainda de tomar posição face aos recentes desenvolvimentos, mas dia 3 de janeiro negou pedidos da FAA e do Departmento de Transportes para adiar a ativação da sua rede 5G.
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