As autoridades norte-americanas para a aviação civil exigiram ajustamentos em torno dos aeroportos às empresas dos Estados Unidos que se preparavam para activar esta quarta-feira a tecnologia 5G, de forma a afastar qualquer interferência das frequências rádio utilizadas pelas operadoras nos instrumentos de bordo.
Em causa estão o motor, sistemas de travagem e instrumentos de navegação aérea que poderão ser bloqueados pelas frequências 5G na transição para o modo de aterragem, o que iria impedir os aparelhos de parar na pista.
Uma diretiva publicada na semana passada pela FAA requereu que "as tripulações estejam cientes destes riscos e adotem procedimentos específicos de segurança ao aterrar" em determinadas pistas.
A rede de alta velocidade 5G utiliza uma banda de frequência similar às usadas nos rádiosaltímetros dos aviões para levantar e pousar. A FAA, Administração Federal para a Aviação, validou a utilização de certos modelos de radioaltímetros e deu o aval para a ativação da rede 5G em 48 dos 88 aeroportos americanos diretamente afetados por riscos de interferência, tendo imposto restrições nalguns casos.
Após estes alertas, várias companhias internacionais suspenderam esta terça-feira voos com destino aos Estados Unidos e outras transportadoras, incluindo a japonesa All Nippon Airways, ANA, anunciaram o cancelamento ou desvio de aviões destinados a aeroportos norte-americanos, citando a incerteza devido à ativação dos serviços 5G.
Apanhado de surpresa na polémica, o Governo dos Estados Unidos deu prioridade à segurança.
"O nosso objetivo é claro: encontrar uma solução quanto à ativação da rede 5G de forma a manter o grau de segurança mais elevado minimizando ao mesmo tempo perturbações para o tráfego de passageiros", reagiu o porta-voz da Casa Branca em conferência de imprensa.
Além da ANA, a Air India e os Emirados cancelaram a maioria dos seus voos em aparelhos Boeing 777 de e para os EUA esta semana, alegando um aviso por parte da Boeing, enviado às empresas por correio eletrónico, quanto à operacionalidade dos instrumentos de bordo destes aparelhos.
Segunda-feira, os presidentes de 10 associações de transporte aéreo avisaram que a ativação da rede poderia interferir com os equipamentos e apelaram às autoridades, a intervirem "imediatamente" de forma a impedir "uma grande perturbação operacional para os passageiros, os transportadores, as cadeias de distribuição e a entrega de bens médicos essenciais".
Em resposta, a FAA afirmou em comunicado "continuar a garantir que o público está seguro à medida que as operadoras ativam a 5G". "A FAA continua a trabalhar com a indústria de aviação e empresas de internet para tentar limitar atrasos de voos e cancelamentos relacionados com a 5G".
Neste contexto, a AT&T, que tem vindo a adiar sucessivamente a ativação da sua rede 5G desde dezembro, "aceitou voluntariamente diferir temporariamente a ativação de um número limitado de torres em torno de certas pistas de aeroportos", conforme um comunicado.
A decisão deve-se à vontade da empresa "prosseguir a colaboração com a indústria aeronáutica e a FAA" e fornecer-lhes "a mais ampla quantidade de informações" sobre a nova tecnologia, lamentando ao mesmo tempo que as autoridades só agora tenham reagido a estes desenvolvimentos, anunciados há pelo menos dois anos.
"Estamos frustrados devido à incapacidade da FAA de fazer aquilo que quase 40 países fizeram, ou seja, implementar com toda a segurança a tecnologia 5G sem perturbar os serviços aéreos", sublinhou no seu comunicado.
A Verizon tem ainda de tomar posição face aos recentes desenvolvimentos, mas dia 3 de janeiro negou pedidos da FAA e do Departmento de Transportes para adiar a ativação da sua rede 5G.