Lisboa, 12 dez (Lusa) - O especialista em alterações climáticas Filipe Duarte Santos considerou hoje "muito importante" o acordo alcançado na cimeira de Paris, mas alertou que este compromisso "não é o fim, mas o início do processo" para evitar o aquecimento global.
Contactado pela agência Lusa, o professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, também especialista em alterações globais e desenvolvimento sustentado, salientou que apesar de ser "muito significativo", o acordo "ainda não chega".
Filipe Duarte Santos apontou que o acordo não irá evitar que se ultrapasse os dois graus centígrados de aumento da temperatura média global da atmosfera à superfície, mas conduzem, sim, a um aumento, em 2100, de três graus".
Destacou, no entanto, o passo dado pela maioria dos países: "Pela primeira vez assinaram 186 em 195 países, o que é muito importante", salientou.
"Pela primeira vez existem compromissos da esmagadora maioria dos países para reduzir as emissões de gases com efeitos de estufa para a atmosfera, de forma a travar as alterações climáticas", sublinhou.
Sobre a ideia de que este passo representa o início do processo e não o fim, Duarte Santos explicou:"Há muito a fazer a partir daqui. Espera-se que seja um sinal muito claro para as empresas, sobretudo para o setor da energia começar efetivamente a apostar numa transição energética, em que se use menos combustíveis fósseis, como o carvão, petróleo e gás natural, e se utilizem mais energias renováveis".
O professor universitário alertou que não vai ser possível gastar todos os combustíveis fósseis que existem no subsolo: "Se fizessemos isso, a temperatura aumentava muito mais, quatro a cinco graus".
Relativamente às alterações climáticos que se estão a fazer sentir em Portugal devido aos efeitos de estufa, o especialista disse que são visíveis em toda a Península Ibérica desde os anos 1960.
"Temos observado diminuição anual da precipitação média, o que faz com que cada vez mais regiões se tornem semi áridas. Por outro lado, surgem mais inundações graves, como as que aconteceram no Algarve este ano", recordou.
A Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP21) aprovou hoje um acordo global vinculativo em que países tanto desenvolvidos como em desenvolvimento, se comprometem a caminhar para uma economia de baixo carbono e tomarem medidas para limitarem o aquecimento global da atmosfera até 2100 a 1,5 graus celsius, em relação aos valores médios da era pré-industrial.