Associação ambientalista alerta para erosão dos solos na Serra da Estrela

por Lusa

Manteigas, Guarda, 19 out (Lusa) - A Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela (ASE), com sede em Manteigas, alertou hoje para a contribuição que os incêndios podem ter para a erosão dos solos e para o armazenamento de água naquela montanha.

"A Serra da Estrela, principal abastecedor de água ao país, tem sido muito fustigada pelos incêndios e essa factualidade está a causar a erosão dos solos que se tem vindo a agravar pela manifesta ausência de vegetação nas cotas mais elevadas da serra e a causar danos na capacidade de armazenamento de água no subsolo, situação à qual não está a ser dada a devida atenção", alerta a ASE em nota hoje enviada à agência Lusa.

A posição da associação ambientalista surge no seguimento dos incêndios rurais que se registaram na zona da Serra da Estrela, concelhos de Seia e de Gouveia, no domingo e na segunda-feira.

Para a ASE, o momento que o país está a viver "não deve servir para a chicana política nem para análises de circunstância", pelo respeito que merecem os cidadãos que perderam as suas vidas, bens e "todos os que ainda nem sequer recuperaram do cansaço e das feridas que os terão marcado para a vida".

Segundo a coletividade presidida por José Maria Saraiva, "no fundo, o que urge fazer é procurar não perder mais tempo, pensar mais no interesse do país, porque não há folga para mais erros como os que foram cometidos ao longo destas quatro décadas".

"A ausência de investimentos para a melhoria das condições dos nossos agricultores que os estimulasse a manter as suas explorações agropastoris, valorizando o seu contributo para o equilíbrio dos ecossistemas, foi contrariada por fortes impulsos para a promoção de povoamentos de eucaliptos que estampam a paisagem de norte a sul do país", sublinha.

Na análise da tragédia causada pelos fogos, a ASE aponta que, "além das variáveis associadas às condições atmosféricas, os eucaliptais, independentemente de serem bem ou mal geridos, são um dos fatores que mais influenciam a dinâmica dos fogos".

"Apesar de todos os problemas que a Serra da Estrela enfrenta, inclusive da alteração estrutural na orgânica do combate aos fogos e que a experiência que uma centena de anos já demonstrara que funcionava bem, temos a sorte de não existir um único povoamento de eucaliptos digno de registo", aponta.

Para isso contribuiu a associação quando, na década de 1980, "foi capaz de sensibilizar a Portucel para não povoar com eucaliptos a encosta de Famalicão da Serra [no concelho da Guarda], como estava previsto fazê-lo".

As centenas de incêndios que deflagraram no domingo, o pior dia de fogos do ano segundo as autoridades, provocaram 42 mortos e cerca de 70 feridos, mais de uma dezena dos quais graves.

Os fogos obrigaram a evacuar localidades, a realojar as populações e a cortar o trânsito em dezenas de estradas, sobretudo nas regiões Norte e Centro.

O Governo decretou três dias de luto nacional, entre terça-feira e hoje.

Esta é a segunda situação mais grave de incêndios com mortos este ano, depois de Pedrógão Grande, em junho, em que um fogo alastrou a outros municípios e provocou, segundo a contabilização oficial, 64 vítimas mortais e mais de 250 feridos. Registou-se ainda a morte de uma mulher que foi atropelada quando fugia deste fogo.

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