Banca cabo-verdiana reduziu crédito mal-parado para 10% em 2020

por Lusa

Cerca de 10% do crédito total concedido pela banca cabo-verdiana estava em situação de malparado em setembro, melhorando face aos 14,3% em 2014, segundo o FMI, que elogia a "resiliência" dos bancos de Cabo Verde na pandemia.

Segundo dados compilados hoje pela Lusa a partir do relatório final da terceira e última revisão do programa de assistência técnica PCI (Instrumento de Coordenação de Políticas, na sigla em inglês), o Fundo Monetário Internacional (FMI) aponta que o capital regulamentar para ativos ponderados de risco situava-se no mesmo período em 18,6%, acima dos 15,6% em 2014.

"E muito acima do mínimo regulamentar de 12%", refere o FMI, que aponta que o sistema financeiro em Cabo Verde, apesar dos efeitos da pandemia de covid-19, "permaneceu resiliente".

"Os dados disponíveis para o final de setembro de 2020 mostram um sistema financeiro estável, lucrativo e líquido", reconhece o FMI, num relatório que destaca ainda a melhoria nos indicadores do crédito não produtivo (Non-Performing Loans -- NPL), ou malparado, que caiu para 10,5% do total, contra os 14,3% em 2014.

Uma queda que "reflete parcialmente" a resolução legal de casos pendentes com os clientes, que tem levado à "melhoria" da "qualidade dos ativos" dos bancos "nos últimos anos", explica o Fundo.

"O setor bancário permanece líquido e o crédito à economia cresceu 4,4% ao ano no final de novembro de 2020, apoiado pela linha de crédito relacionada com a covid-19 e pela moratória temporária nos pagamentos de empréstimos", refere ainda o relatório do FMI, apontando que neste período o retorno sobre os ativos foi de 1%, enquanto o retorno sobre o património líquido foi de 12,7%, "destacando a lucratividade do sistema bancário".

Os sete bancos cabo-verdianos que podem trabalhar com clientes residentes no arquipélago somaram lucros recorde superiores a 30 milhões de euros em 2019, mas os riscos associados à pandemia de covid-19 impediram a distribuição de dividendos pelos acionistas, obrigando à constituição de reservas.

Segundo dados das contas dos sete bancos, aprovadas pelos acionistas de cada instituição durante o ano de 2020 e compilados anteriormente pela agência Lusa, a banca cabo-verdiana somou lucros históricos de 3.312 milhões de escudos (30,2 milhões de euros) em 2019, com praticamente todas as instituições a reconhecerem resultados recorde e nenhuma com prejuízos, contrariamente a 2018.

Metade dos lucros da banca cabo-verdiana em 2019, que fechou o ano com um recorde de 1.333 trabalhadores, foram concentrados em dois bancos da Caixa Geral de Depósitos (CGD), casos do Banco Comercial do Atlântico (BCA), que o grupo português pretende vender, e do Banco Interatlântico.

O Banco de Cabo Verde avançou em março de 2020 com um conjunto de decisões para reforçar a liquidez e solidez do sistema financeiro do arquipélago, antevendo os efeitos da pandemia de covid-19 e avançando com um regime de moratórias no pagamento de crédito.

"A contribuição de todos é fundamental, pelo que, para fazer face aos impactos e eventuais perdas futuras os bancos deverão reforçar os fundos próprios através da não distribuição de dividendos relativamente aos resultados de 2019", lê-se na nota divulgada em março de 2020 pelo banco central.

Os lucros da banca em 2019 foram liderados pelo BCA, com um resultado líquido de 1.170 milhões de escudos (10,6 milhões de euros), sendo este, segundo a administração, o melhor registo em 27 anos de história do banco.

Através do Banco Interatlântico, que detém igualmente em Cabo Verde, a CGD controla 52,65% do BCA, ao que se soma uma participação própria de 6,76%. O Instituto Nacional da Previdência Social de Cabo Verde detém uma participação de 12,54% no BCA.

A Caixa Económica, o outro dos dois grandes bancos de Cabo Verde, registou um lucro histórico de 940,8 milhões de escudos (8,5 milhões de euros), igualmente um aumento recorde de 98,55% face a 2018, sem distribuição de dividendos.

O banco é detido maioritariamente pelo Estado cabo-verdiano, através de uma participação direta no capital social, detida pelo Ministério das Finanças, de 27,44%, mas também pelo Instituto Nacional de Previdência Social, com uma quota de 47,21%, e pela empresa pública Correios de Cabo Verde, com uma participação de 15,14%.

Já os lucros do BI praticamente triplicaram em 2019, face ao ano anterior, para 477,3 milhões de escudos (4,3 milhões de euros), o melhor resultado desde a sua criação, segundo a administração, que tal como todos os outros bancos decidiu aplicar a totalidade dos resultados em reservas.

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