Banco de Portugal revê estimativa de crescimento em baixa

por Carlos Santos Neves - RTP
Estes acertos em baixa ficam a dever-se a uma revisão no mesmo sentido do comportamento das exportações, segundo o banco central Hugo Correia - Reuters

No Boletim Económico de dezembro, divulgado esta terça-feira, o Banco de Portugal faz uma correção em baixa das previsões de crescimento da economia para 2018 e para os próximos anos. Espera agora, para este ano, uma progressão de 2,1 por cento. São menos duas décimas relativamente à anterior previsão e à expectativa do Governo.

Para o próximo ano, o Banco de Portugal espera um crescimento de 1,8 por cento, ritmo que deverá continuar a desacelerar, chegando a 1,6 por cento em 2021 – em linha com as projeções do Banco Central Europeu para o mesmo horizonte na Zona Euro.

O PIB deverá assim progredir 2,1 por cento este ano, 1,8 em 2019, 1,7 em 2020 e 1,6 em 2021.

Rui Alves Veloso, Paulo Lourenço, Mário Santos - RTP

Estes acertos em baixa ficam sobretudo a dever-se, segundo um comunicado do banco central, “a uma revisão em baixa do crescimento das exportações, que reflete a revisão das hipóteses relativas à evolução da procura externa e a incorporação da informação mais recente”.

As previsões para o comportamento das exportações em 2018 são igualmente revistas em baixa - um crescimento de 3,6 por cento, contra os cinco por cento estimados em outubro. Em 2019, deverão crescer 3,7 por cento, seguindo-se uma expansão de quatro por cento em 2020 e novo abrandamento para 3,6 por cento em 2021.

“O abrandamento do PIB no horizonte 2018-21 reflete, em larga medida, um contributo progressivamente menor das exportações em termos líquidos de conteúdos importados”, escreve a instituição governada por Carlos Costa, acrescentando que o contributo da procura interna líquida de conteúdos importados para o PIB “também se deverá reduzir ligeiramente ao longo do horizonte de projeção”.
“Constrangimentos específicos”
Neste Boletim Económico de dezembro, o Banco de Portugal identifica “constrangimentos específicos ao crescimento” da economia a médio ou longo prazo.
O Governo prevê para 2018 um crescimento económico de 2,3 por cento. Para 2019, espera 2,2 por cento.

“Apesar dos progressos dos últimos anos ao nível do funcionamento dos mercados e da redução do endividamento dos diversos setores da economia, estes fatores deverão continuar a condicionar a evolução do investimento e da produtividade”, lê-se na nota do banco central.

“O processo de redirecionamento dos recursos para setores mais expostos à concorrência internacional, por natureza mais permeáveis à inovação, deverá prosseguir, potenciando efeitos de composição favoráveis à evolução da produtividade total dos fatores”, prossegue a instituição.

“Finalmente, o envelhecimento da população cria limitações ao contributo do fator trabalho para o crescimento, apesar de a evolução dos fluxos migratórios poder vir a compensar esta dinâmica negativa. Neste quadro, a aposta no capital humano afigura‐se essencial para promover o crescimento no longo prazo”, conclui.
Financiamento, inflação, emprego

Quanto à capacidade de financiamento relativamente ao exterior, o Banco de Portugal conta com um quadro de estabilidade.

“O saldo conjunto das balanças corrente e de capital deverá situar-se, em média, em 1,3% do PIB em 2018-20, relativamente inalterado face ao nível de 2017, aumentando para 1,6% no final do horizonte de projeção. No entanto, antecipa-se uma alteração de composição, já que a redução do saldo da balança de bens e serviços será compensada pela evolução da balança de rendimento primário e de capital”, aponta.

No que diz respeito à inflação, as previsões do banco central surgem praticamente inalteradas: os preços no consumidor devem aumentar 1,4 por cento este ano e no próximo, 1,5 por cento em 2020 e 1,6 em 2021, evolução que reflete pressões inflacionistas internas assentes nos “custos salariais”, leia-se o aumento do salário mínimo nacional em 2019.

“O enquadramento externo está na origem dos principais fatores de risco e incerteza que rodeiam a atual projeção, contribuindo para riscos descendentes para a atividade e ligeiramente ascendentes para a inflação”, sublinha o banco central.

Em matéria de emprego, o Boletim Económico aponta para “uma evolução mais em linha com a sua relação histórica com a atividade”, depois de “um crescimento muito dinâmico em 2017”. O que “permitirá a continuação de uma trajetória descendente da taxa de desemprego, embora mais moderada do que nos anos recentes”.

A taxa de desemprego deverá ser de 5,3 por cento “no final do horizonte de projeção”.
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