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Bancos da China ultrapassam zona euro em ativos

por RTP
A 18 de janeiro de 2017. a chegada ao terminal Intermodal de Londres do primeiro comboio de mercadorias direto entre a China e o Reino Unido teve honras de cerimónia oficial. Stefan Wermuth - Reuters

O sistema bancário chinês ultrapassou o da zona euro para se tornar o maior do mundo em ativos, noticiou o Financial Times (FT). De acordo com as estatísticas, os ativos bancários na China atingiram 31 biliões de euros contra 29,7 biliões da zona euro. Comparativamente, os ativos dos EUA rondam os 15 biliões e os japoneses os 6.6 biliões.

Os bancos chineses valem mais de três vezes a produção anual chinesa, enquanto os bancos da zona euro valem 2,8 vezes a produção anual dos Estados membros, refere o FT.

Em termos de taxas de juro, o PIB chinês tornou-se maior do que o da União Europeia em 2008, mas o seu sistema bancário só alcançou o primeiro lugar em finais de 2016.A empurrar o sistema, o aumento extraordinário de empréstimos bancários, depois de Pequim ter lançado estímulos fiscais e financeiros agressivos, de forma a suavizar o impacto da crise mundial, afirma o jornal.

O novo posto não é sinal de saúde da economia chinesa, pelo contrário. Foi alcançado à custa de um enorme endividamento público que pode revelar-se demasiado pesado.

"O tamanho massivo do sistema bancário da China é menos uma causa de celebração do que um sinal de uma economia demasiado dependente de investimentos financiados por bancos, ameaçada por uma atribuição de recursos ineficaz e sujeita a enormes riscos de crédito", afirmou ao FT, Eswar Prasad, economista na Universidade de Cornell e ex-diretor da divisão da China no Fundo Monetário Internacional.

Diversos analistas acreditam que os estímulos governamentais levaram a investimentos desperdiçados, capacidade industrial excedentária, e níveis de endividamento perigosos, diz o Financial Times. Criticam ainda o elevado recurso a empréstimos bancários por parte de governos locais, para financiar infraestruturas.

Um aspeto dos contentores empilhados no porto de águas profundas da zona de comércio livre de Xangai, em 13 de fevereiro de 2017. Foto: Reuters

"Existe muito crédito soberano escondido nos relatórios de contas bancários referentes a empréstimos, que podem distorcer a imagem quando se comparam países", alerta Hou Wei, analista do sistema bancário chinês na Sanford C. Bernstein, em Hong Kong. "Em muitos outros mercados os Governos fazem empréstimos diretos no mercado de capitais. A situação chinesa é singular", acrescentou.

O grande problema, a par daquilo que o Governo chama as "empresas zombie" que continuam a produzir carvão e aço em excesso, é o aumento da despesa pública.Bancos paralelos e mercados controlados
Os três maiores bancos do mundo são chineses mas os especialistas afirmam que a verdadeira escala dos bancos da China é subavaliada. Nos últimos sete anos o sistema bancário paralelo explodiu na China.

As autoridades anunciaram medidas contra este sistema bancário que prospera escondido e redobraram esforços para evitar a fuga de capitais e a luta contra a corrupção. Mais recentemente, anunciaram a intenção de mudar da política de estímulo para a de controlo de riscos.

A solução poderia passar por mercados de capitais mais desenvolvidos mas um sistema financeiro mais diversificado iria reduzir a margem de controlo de Pequim sobre os fluxos de moeda, notam os economistas ao FT.

"O Governo chinês tem uma atitude ambivalente para com os mercados financeiros, olhando-os como um mecanismo útil de distribuição de recursos mas reticente a deixá-los operar livremente, com o fito evidente de manter a estabilidade e o controlo, mas isso tem contribuído para a volatilidade dos mercados e para os tornar menos eficientes", referiu Prasad.

Trabalhadores do túnel de caminhos de ferro de alta-velocidade Bandaling Grande Muralha a norte de Pequim, China. Foto: Reuters
Uma bolha?
Dados oficiais publicados no início do mês referem que China retirou da pobreza 12,4 milhões de pessoas, no ano passado, como parte de uma campanha para erradicar a pobreza até 2020.

Segundo o Gabinete Nacional de Estatísticas chinês, em 2016, o rendimento anual per capita nas zonas rurais subiu 8,4 por cento para 8.452 yuan (1.160 euros).

Um programa governamental transferiu ainda 2,49 milhões de residentes de áreas pobres para regiões mais prósperas do país e o Governo prometeu criar mais 11 milhões de postos de trabalho nas metrópoles, em 2017, para responder à migração das zonas rurais para as cidades.

Já no domingo, o primeiro ministro Li Keqiang anunciou as previsões mais baixas de crescimento económico em 27 anos: 6,5 por cento em 2017, uma revisão em baixa das previsões de 6,5 a 7 por cento anunciadas para 2016.

O crescimento chinês acabou por se ficar pelo 6,7 por cento em 2016, o pior nos últimos 26 anos.É notório que Pequim está atento às dificuldades internas da sua economia e aos perigos que representa uma eventual guerra económica com os Estados Unidos de Trump, que ameaça enveredar por políticas proteccionistas.

De acordo com as palavras do primeiro ministro chinês perante o Parlamento, o Congresso Nacional do Povo, os esforços do Governo vão focar-se agora no controlo das "empresas zombie" e da tendência de rápido crescimento da dívida decorrente do aumento da despesa pública.
Yuan em perigo
Nos últimos dois anos Pequim gastou um bilião de dólares das suas reservas para manter o yuan estável. Multiplicam-se as vozes a pedir ao Governo que deixe a moeda chinesa desvalorizar-se de acordo com a pressão do mercado.

Pequim parece estar a ouvir. Até porque os seus esforços para tornar o yuan uma moeda internacional de referência estão a falhar e foram em grande medida colocados de lado no ano passado.

Este domingo, o primeiro ministro Kequiang mencionou ideias como políticas fiscais "proativas" e políticas monetárias "cautelosas". Refletindo o novo tom, a China revelou alterações na sua retórica do costume em relação à cotação do yuan.

"A taxa de câmbio renminbi será mais liberalizada e a posição estável da moeda no sistema monetário global será mantida", referiu o relatório lido por Keqiang no Congresso Nacional do Povo, em vez da habitual frase "manter um yuan estável a um nível razoável e equilibrado".

Uma mulher conta notas de yuan num posto de venda de bilhetes para uma feira de emprego em Pequim. Foto: Reuters

A alteração poderá significar um aligeiramento do grau de intervenção de Pequim na cotação da sua moeda, a par de uma maior tolerância a alterações do yuan face ao dólar.

Apesar de ter sido classificada com o estututo de moeda de reserva pelo FMI, o yuan tem estado a perder valor para os investidores, em parte devido ao controlo apertado exercido pelo Governo.

No final de 2016, os depósitos em yuan em Hong Kong, um offshore primário para a moeda chinesa, caíram 46 por cento face a máximos de dezembro de 2014.

Os pagamentos internacionais em yuan, revelados quinta-feira pelo processador Swift, caíram 29,5 por cento em 2016 e a parte do yuan referente aos pagamentos internacionais perdeu 0,63 pontos percentuais para 1,68 por cento no final do ano.
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