Bruxelas revê em baixa crescimento de Portugal para 3,9% este ano. Défice deverá ficar nos 4,7%
A Comissão Europeia (CE) reviu hoje em baixa o crescimento económico esperado para Portugal este ano, apontando agora para 3,9%, quando em fevereiro esperava 4,1%, de acordo com as previsões económicas de primavera hoje divulgadas. Piorou em duas décimas as previsões para o défice português, esperando um saldo negativo das contas públicas de 4,7% este ano, mas melhorou as da dívida pública em três pontos percentuais, para 127,2%.
Em termos trimestrais, Bruxelas aponta para uma recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) português do segundo ao quarto trimestre, quer em cadeia (3,2%, 3,9%, e 1,0% respetivamente), quer face aos mesmos trimestres do ano passado (13,5%, 4,0% e 4,9%, respetivamente).
Em termos anuais, as previsões de um crescimento de 3,9% estão exatamente alinhadas com as do Banco de Portugal (BdP) e as do Fundo Monetário Internacional (FMI), estando uma décima abaixo dos 4,0% esperados pelo Governo e acima dos 3,3% do Conselho das Finanças Públicas (CFP) e dos 1,7% da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
"A economia portuguesa irá crescer novamente a partir do segundo trimestre de 2021, à medida que as medidas para conter a pandemia de covid-19 são gradualmente relaxadas", pode ler-se no texto sobre Portugal nas 200 páginas das previsões económicas de primavera.
Bruxelas antecipa ainda que o PIB português deverá chegar ao seu nível pré-crise "a meio de 2022" (ano em que a Comissão Europeia espera um crescimento de 5,1%), algo ajudado pelo Mecanismo de Recuperação e Resiliência (MRR), uma previsão mais otimista do que a do Governo, que aponta para o final do próximo ano.
"Assume-se que a recuperação no turismo ganhará velocidade no terceiro trimestre de 2021, mas não se espera que o setor tenha atingido o seu nível pré-pandemia no final do horizonte de projeções", ou seja, em 2022.
De acordo com Bruxelas, os riscos para Portugal permanecem, devido à "alta dependência do turismo externo, onde a incerteza acerca do caminho para a recuperação permanece alta".
Bruxelas aponta, em 2021, para um crescimento do investimento total de 4,6% e uma inflação de 0,9%.
Bruxelas piora previsões para défice
A Comissão Europeia piorou em duas décimas as previsões para o défice português. Espera um saldo negativo das contas públicas de 4,7% este ano, mas melhorou as da dívida pública em três pontos percentuais, para 127,2%.
Quanto ao défice, Bruxelas está mais otimista do que o que o Fundo Monetário Internacional (FMI) (5,0%) e que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) (6,3%), mas mais pessimista do que o Governo (4,5%) e o Conselho das Finanças Públicas (4,1%).
Já relativamente ao rácio da dívida pública face ao PIB, a Comissão Europeia tem as previsões mais otimistas do que a generalidade das instituições, com o Governo a prever 128,0%, o FMI 131,4%, o CFP 131,5% e a OCDE (139,7%).
"Consequentemente, o tamanho do pacote de medidas de política deste ano é agora projetado como sendo de certa forma semelhante às de 2020".
Para o futuro, "a melhoria das finanças públicas deverá ganhar ímpeto em 2022, no meio da retirada das medidas de apoio orçamental e da recuperação económica".
"Esta previsão tem em conta os gastos do Mecanismo de Recuperação e Resiliência, bem como as subvenções associadas", e os riscos permanecem devido "ao crescimento dos passivos contingentes, derivados das garantias públicas vindas da crise".
Quanto à dívida pública, a descida dos 133,6% de 2020 para 127,2% e 122,3% dever-se-á sobretudo "aos diferenciais favoráveis entre crescimento e as taxas de juro, devido à melhoria das condições económicas".
A Comissão Europeia melhorou a perspetiva quanto à taxa de desemprego em Portugal este ano, apontando agora para os 6,8%, quando em novembro do ano passado esperava 7,7%.
Bruxelas mostra-se ainda confiante quanto à evolução deste indicador para 2022, prevendo que a taxa de desemprego baixe para os 6,5% no próximo ano, duas décimas abaixo da previsão do Governo (6,7%).
Quanto ao emprego, deverá crescer 1,0% em 2021 e 1,2% em 2022, depois de ter recuado 1,7% em 2020.
No texto dedicado a Portugal, Bruxelas assinala que "o mercado de trabalho continua resiliente". "O desemprego permaneceu à volta dos 6,9% no primeiro trimestre de 2021, quando o novo confinamento teve um impacto bastante limitado no fluxo de novos registos de pessoas que procuram emprego".
Para Bruxelas, à medida que a economia recupera, "tanto as taxas de emprego como de desemprego deverão recuar aos níveis pré-pandemia em 2022".