Bruxelas revê em baixa crescimento português

por Ana Sofia Rodrigues - RTP
Reuters

A Comissão Europeia divulgou esta quinta-feira as previsões económicas intercalares de inverno. Bruxelas reviu em baixa a sua previsão para o crescimento da economia portuguesa este ano, prevendo uma expansão de 1,7%, abaixo da estimativa de 2,2% do Governo. Apesar do abrandamento, Portugal continua a crescer acima da média europeia e da Zona Euro.

Na previsão de outono, a Comissão Europeia previa um crescimento de 1,8 por cento. Agora, a estimativa de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) português é de 1,7 por cento este ano. Para 2020, a previsão de crescimento é igualmente de 1,7 por cento.

Bruxelas está assim mais pessimista para o crescimento da economia portuguesa em 2019 do que o Governo português, que continua a apontar para uma expansão de 2,2% do PIB este ano.

Há três meses, nas suas previsões de outono, o executivo comunitário antecipou um abrandamento do ritmo de crescimento da economia portuguesa para 1,8% este ano, abaixo da previsão de 2,2% inscrita no Orçamento do Estado para 2019, que já constituía uma ligeira revisão em baixa do Governo face à estimativa do Programa de Estabilidade, apresentado em abril, que apontava para 2,3%.

Nas previsões agora divulgadas, a Comissão antecipa ainda que a economia nacional tenha crescido menos em 2018, ou seja 2,1 por cento (previsão divulgada em novembro era de 2,2 por cento) e que a travagem se repercuta também em 2019, igualmente com um crescimento económico menor do que previa há alguns meses.

A revisão em baixa é encarada como um impacto da deterioração da conjuntura internacional e uma menor procura externa. "É expectável que a expansão económica abrande ainda mais devido a uma contribuição mais fraca das exportações líquidas”, explica o relatório. A procura interna terá, porém, um abrandamento “marginal”, enquanto o investimento deve acelerar ligeiramente.

Nas previsões divulgadas hoje a Comissão Europeia também antecipa que a inflação "aumente ligeiramente para 1,3% em 2019", face aos 1,2% apontados para 2018 e abaixo dos 1,6% projetados nas previsões de outono.
Crescimento acima da média
Apesar do abrandamento, Portugal continua a crescer acima da média europeia e da Zona Euro, tanto em 2018 como em 2019 e 2020. No conjunto dos 28 Estados-Membros, Bruxelas prevê um crescimento de 1,9 por cento no ano passado, 1,5 por cento em 2019 e 1,7 por cento em 2020. A estimativa de há três meses apontava para um crescimento de 2,2 por cento em 2018.

Na Zona Euro, prevê-se um crescimento de 1,9 por cento em 2018, de 1,3 por cento em 2019 e 1,6 por cento em 2020. Estes números representam uma revisão muito acentuada em relação às suas previsões anteriores para a Zona Euro. No Outono, Bruxelas estimava um crescimento de 2,1% em 2018 e de 1,9% em 2019.

Para o conjunto da União Europeia (já a 27, dado a saída do Reino Unido estar agendada para final de março), a Comissão revê igualmente em baixa a previsão de crescimento para 2019, que estima agora que se fixe nos 1,5%, quando há três meses antecipava que chegasse aos 2,0%.

Para 2020, prevê que acelere para os 1,8% do PIB, ainda assim abaixo do valor projetado no outono, de 1,9%.
Elevado grau de incerteza
A nível europeu, a Comissão Europeia reviu hoje em baixa as previsões de crescimento da economia da zona euro até 2020 e reconhece que o abrandamento poderá ser ainda mais pronunciado devido ao "elevado grau de incerteza" no panorama económico global.

De acordo com o executivo comunitário, a atividade económica foi mais moderada do que o previsto no segundo semestre de 2018, devido a um abrandamento do comércio mundial, um decréscimo na confiança e por problemas de produção em diversos países, tensões sociais e incerteza sobre políticas orçamentais. De recordar problemas em duas das principais economias europeias, a alemã e italiana.
As exportações portuguesas são na maioria para a Europa, podendo o abrandamento nestas economias ter reflexos em Portugal
Bruxelas sublinha que a economia europeia deverá crescer em 2019 pelo sétimo ano consecutivo, e em todos os Estados-membros, mas admite que "o ritmo do crescimento deverá ser moderado, comparativamente com as taxas elevadas dos últimos anos", e adverte que "o cenário está sujeito a uma grande incerteza".

"Um elevado grau de incerteza rodeia o panorama económico e as projeções estão sujeitas a riscos negativos. As tensões comerciais, que têm pesado sobre o sentimento há já algum tempo, aliviaram até certo ponto, mas continuam a ser um fator de preocupação", aponta a Comissão Europeia.

Bruxelas justifica também o cenário de incerteza com o facto de a economia chinesa ter abrandado de forma mais vincada do que era antecipado e de os mercados financeiros globais e muitos mercados emergentes serem vulneráveis a mudanças abruptas, além de, sublinha, o processo de saída do Reino Unido da UE ('Brexit') continuar a ser "uma fonte de incerteza".


As previsões motivaram uma reação a Mário Centeno, ministro português das Finanças e presidente do Eurogrupo. "Deixem de descrever o abrandamento económico como crise. Os riscos políticos estão a levar a este abrandamento. Por isso, está nas nossas mãos mudar a maré e agir agora para reduzir estes riscos.
Brexit: Incerteza europeia e britânica

A Comissão Europeia reviu em ligeira alta as estimativas para crescimento do PIB no Reino Unido até 2020. O PIB inglês deverá avançar 1,3% este ano e no próximo, face ao crescimento de 1,2% apontado nas previsões de outono, divulgadas em novembro passado.

Relativamente a 2018, também há uma revisão em ligeira alta, estimando-se um crescimento de 1,4% do PIB, face à anterior previsão de 1,3%.

A Comissão aponta que o crescimento no ano passado foi, ainda assim, "moderado", salientando que "a desaceleração está ligada a uma maior incerteza sobre a futura relação comercial do Reino Unido com a UE, que impactou negativamente o consumidor, a confiança e o investimento das empresas" devido ao `Brexit`.

Também devido à saída da União Europeia, as previsões para 2019 e 2020, são "apenas técnicas", partindo da ideia de manutenção das relações comerciais existentes entre Londres e Bruxelas, assinalam os técnicos do executivo comunitário no documento.

"Isto é apenas para fins de previsão e não tem em conta as conversações em curso", realçam.

Bruxelas adianta, porém, que o "cenário relativamente benigno" agora previsto pode ser afetado pelo `Brexit`.

O Reino Unido deveria deixar a União Europeia em março de 2019, dois anos após o lançamento oficial do processo de saída, e quase três anos após o referendo de 23 de junho de 2016, que viu 52% dos britânicos votarem a favor do `Brexit`. Porém, o processo está com um futuro incerto.

Relativamente à inflação, o outro indicador macroeconómico contemplado nestas previsões intercalares, a Comissão Europeia estima que este ano abrande para os 1,4% na zona euro e 1,6% na UE a 27, e progrida ligeiramente -- uma décima -- no próximo ano, para os 1,5% no espaço da moeda única e 1,7% no conjunto dos 27 Estados-membros.


(em atualização)
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