Câmara Africana de Energia sugere amnistia para insurgentes

por Lusa

A Câmara Africana de Energia sugeriu hoje uma amnistia para os insurgentes no norte de Moçambique, argumentando que o problema não é apenas militar e que é preciso juntar esforços para garantir uma solução duradoura.

"Não vou adoçar, a situação na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, é terrível", escreveu NJ Ayuk, presidente executivo desta organização destinada a promover os investimentos em África, vincando que "a violência agora está a aumentar e a intensificar a infelicidade da área, com as pessoas a viverem em constante medo".

Para NJ Ayuk, a resposta tem de ser multidimensional e passa, entre outras medidas, por garantir uma "saída segura" para os combatentes, construindo confiança.

"A nossa estratégia também deve levar em consideração as preocupações daqueles que já foram recrutados para a insurgência; os rebeldes precisam sentir que têm outra opção - não apenas que suas comunidades serão tratadas com justiça, mas também que eles e suas famílias podem seguir em frente com segurança", diz NJ Ayuk.

"Para conseguir isso, o governo de Moçambique deve estar preparado para criar um acordo de amnistia para os rebeldes, os líderes do governo precisarão de se aproximar dos grupos militantes e iniciar um processo de construção de confiança que culminará, com sorte, em um acordo mútuo de cessar-fogo", que deve ser seguido "por um projeto de desarmamento e desmobilização, que as petrolíferas da área deveriam apoiar".

No extenso comunicado hoje divulgado, o presidente da CAE vinca que está disposto a financiar parcialmente uma solução, mas salienta que "deitar dinheiro sobre o problema não resolve o problema" e que é preciso garantir que os habitantes que se sentem abandonados são parte da solução e que parte das receitas da exploração do gás são usadas para melhorar as suas vidas.

"Há esperança, existe um caminho para uma solução duradoura, e a CAE gostaria de ajudar, oferecendo soluções e financiando medidas de consolidação da paz e uma iniciativa de negociação", rejeitando a ideia de "pagar aos militantes na esperança de apaziguá-los, como alguns propuseram".

A violência armada em Cabo Delgado, onde se desenvolve o maior investimento multinacional privado de África, para a exploração de gás natural, começou há três anos e está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 560 mil deslocados, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.

Algumas das incursões passaram a ser reivindicadas pelo grupo `jihadista` Estado Islâmico desde 2019.

Vários analistas têm alertado para o impacto negativo destes combates no processo de exploração de gás natural por parte das petrolíferas multinacionais, sendo que a francesa Total começou já a reduzir a força de trabalho nas suas instalações devido à insegurança.

Tópicos
pub