CGD. Relatório confirma compadrio e responsabilidade dos sucessivos governos, diz CGTP

por Lusa

A CGTP defendeu hoje que o relatório sobre a Caixa Geral de Depósitos (CGD) confirma que alguns empréstimos traduzem compadrio e práticas de gestão danosa e que os sucessivos governos têm "responsabilidade acrescida" ao darem cobertura aos despedimentos.

O relatório de auditoria confirma que "alguns dos empréstimos concedidos traduzem situações de compadrio e cumplicidade que configuram práticas de gestão danosa e até criminosa, que não podem ficar impunes", defendeu a CGTP.

De acordo com a intersindical, quem avaliou os "negócios ruinosos" e quem deles beneficiou tem que ser punido.

"É escandaloso verificar a leviandade com que se contabilizam como imparidades os empréstimos concedidos e não pagos, arcando o contribuinte, a maioria com baixos salários e reformas, com os seus custos, ao mesmo tempo que quem os concedeu recebia prémios pelo bom desempenho", referiu.

Em causa está uma versão da auditoria da EY à CGD relativa ao período 2000-2015, com data de dezembro de 2017, que refere que os administradores do banco público receberam "remuneração variável" e "voto de confiança", mesmo com resultados negativos.

A auditoria aponta "importantes insuficiências" organizacionais que poderão ter contribuído para decisões pouco fundamentadas na concessão de crédito e detetou sete operações de concessão de crédito com risco grave ou elevado e perdas, só nestas, de mais de 1000 milhões de euros, entre as quais as operações de financiamento da fábrica da La Seda de Barcelona, em Sines.

Para a CGTP, o relatório em causa confirma ainda que "não são, nem foram, os trabalhadores e a generalidade da população que viveram acima das possibilidades", mas, entre outros, um restrito número de banqueiros "que usaram e abusaram do setor financeiro para enriquecer à custa de negócios fraudulentos e ruinosos para o erário público".

Adicionalmente, a intersindical vincou que ficou provado que "os sucessivos governos têm responsabilidade acrescida", por terem sido "lesos" a dar cobertura ao despedimento de trabalhadores, ao encerramento de balcões e ao cerceamento do serviço social que a CGD prestava em muitas localidades.

"Os montantes envolvidos e os custos acrescidos divulgados no relatório são o resultado da opção política em fazer da CGD um banco público que funciona na lógica da gestão privada, com a agravante de, sempre que foi necessário, ser usado para acorrer aos devaneios do sector financeiro, convertendo-se num veículo da transferência de verbas do Orçamento do Estado para o sector privado. Uma prática economicamente inadmissível, que suga recursos, condiciona o apoio às famílias, às micro e pequenas empresas e ao desenvolvimento do país", indicou

A CGTP disse ainda não compreender porque razão as entidades que tinham conhecimento dos dados relativos à CGD "primaram pelo silêncio, quando se justificava e exigia" a divulgação dos mesmos e o início do processo de responsabilização política, profissional e pessoal dos envolvidos.

"É tempo de passar das palavras aos atos. A culpa não pode morrer solteira", concluiu.

Tópicos
pub