Comissão de Trabalhadores acusa Santander Totta de ameaçar funcionários que não aceitam rescisões
A Comissão Nacional de Trabalhadores do Santander Totta acusa a administração do banco de estar a "coagir" e "ameaçar" funcionários para que aceitem o plano de rescisões que arrancou na instituição este mês de Outubro. De acordo com um membro do secretariado da CT, é uma empresa externa de auditoria que está a contactar os funcionários, insinuando que as rescisões não são voluntárias mas obrigatórias.
“A maioria dos trabalhadores que foram chamados às reuniões não querem rescindir e são ilegalmente ameaçados nessas reuniões, de terem de assinar porque o banco não os quer e que depois serão despedidos sem essas indemnizações”, avança João Pascoal, denunciando que “a Administração do Banco Santander Totta deu início a um processo de despedimentos de trabalhadores”.
A Comissão de Trabalhadores distancia-se aqui da terminologia usada pelo Santander Totta, que, segundo este membro da CT, refere as saídas como parte de uma “reorganização permanente” e não de uma “reestruturação”, processo que, no final do primeiro semestre deste ano, dispensou já 167 trabalhadores e fechou 25 balcões, face à estrutura que existia doze meses antes, de acordo com os números avançados pelo próprio banco.
“Este processo dá-se numa altura em que o banco está a contratar novos trabalhadores a menor custo e também a proceder a novos contratos com empresas de outsourcing”, acrescenta a Comissão de Trabalhadores, assinalando que um dos critérios da dispensa de trabalhadores passa pela opção por trabalho precário.
Negociação em clima hostil
Dando a ideia de que as negociações estão a ser levadas a cabo sob um clima hostil, João Pascoal explica que “as reuniões decorrem em edifícios do Banco em Lisboa, Porto e Faro” com “os Recursos Humanos a fazerem-se assessorar por uma empresa de consultores externos que pressionam os trabalhadores e chegam mesmo a ameaçá-los”.
De acordo com João Pascoal, o “trabalho sujo” do processo de dispensa dos trabalhadores cabe à referida empresa de consultoria que, após as reuniões, passa a exercer uma “pressão inqualificável e manifestamente ilegal” sobre aqueles funcionários que não aceitem os valores ou as condições da rescisão.
Neste sentido, sublinha aquele representante dos trabalhadores, “a consultora não tem direito legal a contactar os trabalhadores ou a dizer-lhes que têm de assinar um contrato de rescisão”.
Sindicatos atentos à consultoria externa
Um comunicado desta quinta-feira dos sindicatos do sector bancário assumia a mesma linha crítica da Comissão de Trabalhadores do Santander Totta, advertindo que não iria permitir quaisquer pressões ou ameaças sobre os trabalhadores.
Confirmando que “muitos trabalhadores” do Santander Totta estão a ser chamados para rescisões por mútuo acordo, os sindicatos do Setor Financeiro (Mais) e dos Bancários do Centro (SBC) lembram que esses trabalhadores são livres de aceitar ou recusar o que lhes é proposto durantes as reuniões.
“Muitos trabalhadores do Banco Santander Totta estão a ser convocados para uma reunião com os recursos humanos, na qual está também presente um consultor externo. O objetivo é apresentar-lhes uma proposta de rescisão por mútuo acordo, tendo como contrapartida uma indemnização”, refere o comunicado conjunto do Mais Sindicato e do SBC, avisando desde logo o Santander de que não aceitarão que os trabalhadores venham a ser alvo “de qualquer tipo de pressão ou ameaça”.
O Mais sindicato e o SBC aconselham ainda a administração do banco a que descarte qualquer cenário de extinção do posto de trabalho ou de despedimento coletivo; aos trabalhadores, os sindicatos reiteram a sua disponibilidade para os ajudar no decorrer do processo e aconselham para já que recorram a apoio jurídico para que estejam seguros “das consequências da sua decisão”.
Contactado pela RTP para responder a estas acusações, o Santander Totta não respondeu aos nossos emails até à hora de publicação deste artigo.
Menos 167 trabalhadores e menos 25 agências
Em Julho, o Santander Totta revelou os resultados semestrais segundo os quais contava no final do primeiro semestre com menos 167 trabalhadores (6.163) e 25 (491) balcões relativamente ao mesmo período de 2019.
Os lucros de 172,9 milhões de euros até junho representavam uma queda de 37% face ao período homólogo. O banco, detido pelo grupo espanhol Santander, anunciava então prejuízos recordes de quase 11 mil milhões de euros no primeiro semestre, de acordo com o comunicado.
Crise da banca ameaça trabalhadores
Os bancos que operam em Portugal tinham no final do primeiro semestre 3.965 agências, menos 117 face a junho de 2019, segundo a Síntese de Indicadores do Setor Bancário divulgada pela Associação Portuguesa de Bancos (APB).
Quanto a trabalhadores, na atividade doméstica, eram 46.714 no final do primeiro semestre, neste caso praticamente estável (mais 41) face ao primeiro semestre de 2019, ainda de acordo com a associação que representa os principais bancos que operam em Portugal.
Nos últimos anos tem vindo a ser operada uma redução da estrutura dos bancos e, apesar do ligeiro ganho de trabalhadores indicado nestes dados, os analistas preveem que nos próximos meses o setor venha a cortar no pessoal em termos agregados.
No final de julho, numa análise contextualizada pela actual pandemia de covid-19, a agência de 'rating' Fitch considerava que, face a esta nova ameaça, uma das medidas que os bancos tomariam seriam novas reestruturações.