Covid-19. Países impõem restrições às exportações de material médico

por RTP
Atualmente, 70 por cento das exportações de ventiladores são provenientes de apenas sete países. Foto: Arnd Wiegmann - Reuters

São cada vez mais os países que, para assegurarem o fornecimento de equipamentos médicos aos próprios hospitais durante a pandemia de Covid-19, estão a suspender ou a restringir as exportações desses bens, entre os quais ventiladores, máscaras e batas médicas. Os economistas apelam ao fim destas proibições e ao aumento da cooperação entre nações para que não sejam negados a milhões de pessoas equipamentos que podem salvar vidas.

São já 60 os países que introduziram restrições às exportações e todos os dias são impostas mais medidas nesse sentido, de acordo com a organização Global Trade Alert. Alguns dos exemplos mais recentes são os da Índia, que esta semana proibiu a exportação de ventiladores e desinfetantes, e da Suíça, que começou a exigir licenças para a exportação de luvas, máscaras, óculos de proteção e cotonetes.

“É o mínimo que podemos fazer pela população de modo a evitar a falta do equipamento médico necessário numa situação de emergência”, declarou o ministro suíço da Economia, Guy Parmelin, à estação de televisão pública desse país. A 15 de março, a própria União Europeia anunciou que iria restringir as exportações de equipamentos de proteção individual, incluindo máscaras cirúrgicas, óculos de proteção e batas médicas.

No início de março, a única empresa de fabrico de ventiladores em Itália, a Siare Engineering, anunciou que toda a sua produção passaria a destinar-se ao uso doméstico, de acordo com as indicações do Governo italiano. Antes, essa empresa exportava 90 por cento dos seus produtos.

“O primeiro-ministro Conte telefonou-nos diretamente para explicar a situação. Disse que não havia alternativa. Tivemos de organizar um plano em 48 horas, em conjunto com o Governo, a Proteção Civil e o Ministério da Defesa”, lamentou na altura o diretor-geral dessa empresa, Gianluca Preziosa.
“Negar tecnologia que salva vidas”
Com o aumento destas restrições, pode tornar-se cada vez mais difícil aos países onde não existem fabricantes de ventiladores obter esses equipamentos. “Os países que possuem produtores nacionais de ventiladores são muito sortudos”, considerou Preziosa.

O continente africano pode ser um dos mais afetados pois, apesar de vários dos seus países possuírem produtores de ventiladores, dificilmente terão a tecnologia necessária para produzirem as versões mais avançadas.

“Se as nações deixarem de permitir que os ventiladores saiam das suas fronteiras, isso poderá efetivamente significar a negação de tecnologia que salva vidas a milhares de milhões de pessoas”, alertou Simon Evenett, diretor da organização Global Trade Alert, que fornece informações sobre as medidas governamentais que afetam o comércio dos vários países com o estrangeiro.

Por essa razão, os economistas estão a apelar ao fim das restrições nas exportações e ao reforço da cooperação global para a distribuição dos equipamentos médicos.
Restrições podem originar especulação de preços
Numa tentativa de prever o impacto de restrições semelhantes nas exportações de equipamentos médicos durante a pandemia de Covid-19, dois economistas do Banco Mundial perceberam que, atualmente, 70 por cento das exportações de ventiladores são provenientes de apenas sete países.

De acordo com os seus cálculos, se um desses países impusesse restrições às vendas internacionais, os preços a nível global poderiam aumentar em dez por cento. “E se ainda mais países o fizessem, o aumento dos preços seria muito superior”, esclareceu à CNN Michele Ruta, economista do Banco Mundial.

Ruta considera que existe uma tendência dos países para a acumulação de bens em situações de emergência, o que pode levar a restrições gerais na produção, à escassez de produtos e ao aumento dos preços.

O economista deu como exemplo o período de 2008-2011, quando muitos países começaram a restringir as exportações e levaram a que houvesse um aumento de 13 por cento, em média, dos preços de bens alimentares.

A pandemia de Covid-19 já chegou a mais de duas centenas de países e infetou mais de 600 mil pessoas, das quais cerca de 137 mil recuperaram e 28 mil não sobreviveram.
pub