Crime transnacional gera anualmente entre 1,6 e 2,2 biliões de dólares

por Lusa

Lisboa, 27 mar (Lusa) -- O crime transnacional gera anualmente entre 1,6 e 2,2 biliões de dólares (1,47 e 2,02 biliões de euros), segundo um relatório publicado hoje pela Global Financial Integrity (GFI), uma organização de investigação e consultadoria sedeada em Washington.

O estudo da GFI -- com o título "Crime Transnacional e Mundo em Desenvolvimento" -- sublinha que a combinação de lucros elevados e riscos baixos para os agentes do crime transnacional e o apoio de um sistema financeiro mundial sombrio são um estímulo e perpetuam estes abusos.

A contrafação, com montantes gerados entre 923 mil milhões e 1, 13 biliões de dólares (849,3 mil milhões e 1,04 biliões de euros) e o tráfico de droga, com lucros na ordem dos 426 mil milhões e 652 mil milhões de dólares (392,1 mil milhões e 600,1 mil milhões de euros) são as atividades que mais pagam aos criminosos transnacionais.

"A comunidade internacional prestou até agora muito pouca atenção ao combate ao branqueamento de capitais no crime transnacional, preferindo, ao invés, forcar-se nos materiais ou manifestações dos crimes", sublinhou o presidente da GFI, Raymond Baker, um especialista em questões relacionadas com a criminalidade financeira, num comunicado que acompanha o relatório.

"O combate ao crime transnacional precisa de ser redirecionado para o dinheiro que esse crime gera. Isto implica acabar com o sistema financeiro sombrio que facilita a movimentação secreta de fundos gerados de forma ilícita. Nada disto é difícil tecnicamente. É uma questão de vontade política", acrescentou Baker.

Channing May, a autora deste estudo, afirmou no mesmo comunicado que "o crime transnacional é um negócio, e um negócio muito bom", sublinhando que "o dinheiro é a primeira motivação destas atividades ilegais".

"Por detrás deste conjunto de bens ou produtos ilegais existem tendências consistentes nas redes organizadas em torno destes crimes, o papel do sistema financeiro global e as consequências negativas para os governos, economias e sociedades nos países em desenvolvimento", acrescentou a analista.

"Muito raramente os lucros do crime transnacional se traduzem em benefícios a longo termo para o cidadão, economias ou países em desenvolvimento. Pelo contrário, estes crimes minam as economias locais e nacionais, destroem o ambiente e colocam em perigo a saúde e bem-estar das populações", disse ainda Channing May.

Entre as atividades mais lucrativas no conjunto da criminalidade transnacional estudada, o tráfico de seres humanos rende anualmente um montante estimado nos 150,2 mil milhões de dólares (138,2 mil milhões de euros); o alojamento ilegal vale entre 52 e 157 mil milhões de dólares (entre 47,8 e 144,5 mil milhões de euros) e a pesca ilegal gera proveitos na ordem dos 15,5 a 36,4 mil milhões de dólares (entre 14,3 e 33,5 mil milhões de euros).

"A natureza sistemática do crime transnacional pede uma abordagem alargada no seu combate", afirmou Christine Clough, gestora de programas na GFI, que participou também no estudo conduzido por May.

"Uma maior transparência financeira tem o potencial para cortar simultaneamente todos os crimes transnacionais em qualquer parte do mundo", acrescentou a especialista.

"As redes envolvidas nestes mercados ilícitos são semelhantes a corporações internacionais: precisam de acesso aos sistemas financeiros e bancos para continuarem a ser rentáveis e a operar. Dependem do secretismo e do anonimato que lhes é oferecido por um sistema financeiro global sombrio para lavar o seu dinheiro e manterem o sucesso internacional das suas empresas", rematou Christine Clough.

A GFI recomenda ainda aos governos passos firmes no sentido da obrigarem as empresas a identificarem sempre nos seus registos os últimos beneficiários dos respetivos negócios; a sinalizarem como de alto risco todas as transações que envolvam indivíduos ou empresas sedeadas em paraísos fiscais, exigindo informação documentada mais minuciosa; e -- entre outras medidas - a escrutinarem em todas as importações eventuais sinais de falsificação de faturas, que podem denunciar tráfico técnico ou físico.

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