Dívida limita crescimento em Moçambique mas perspetivas e médio prazo são boas

por Lusa

Londres, 14 dez (Lusa) - A agência de notação financeira Fitch considerou hoje que a recuperação económica em Moçambique está a ser limitada pelos efeitos da crise da dívida, mas as perspetivas de crescimento a médio prazo são fortes.

"A recuperação económica está a ser restringida pelos efeitos da crise da dívida; as perspetivas de crescimento a médio prazo, no entanto, são fortes, já que há sinais positivos sobre a materialização, finalmente, dos megaprojetos aguardados há bastante tempo", lê-se numa nota enviada aos investidores.

No documento, a que a Lusa teve acesso, os analistas da Fitch escrevem que o país está "preso no incumprimento financeiro [`default`, no original em inglês]" e notam que "houve poucos progressos relativamente à resolução do `default` soberano", que aliás esperam que seja uma situação duradoura.

"O país está a falhar os pagamentos da única emissão de dívida em moeda estrangeira, bem como os pagamentos dos empréstimos contraídos por empresas públicas e avalizados pelo Governo", acrescenta-se na nota.

O Fundo Monetário Internacional "disse que uma auditoria às empresas públicas não cumpriu as condições exigidas devido a falhas de informação", pelo que, conclui a Fitch, "não é claro como as conversações sobre a dívida podem ser afetadas por eventuais disputas entre os credores e pelas consequências orçamentais dos projetos do gás".

A nota da Fitch surge na mesma altura em que um relatório das Nações Unidas sobre a Situação Mundial e Perspetivas Económicas (WESP) considera que o incumprimento financeiro e tensões políticas limitam o investimento e colocam o país a crescer abaixo de 4% até 2020.

"O investimento em Moçambique está a ser limitado pelo incumprimento financeiro, em janeiro, e pelo alto nível de dívida", lê-se no relatório divulgado esta semana em Nova Iorque.

"O crescimento vai também ser travado pelas tensões políticas", acrescenta o documento, que antevê uma expansão económica de 4,1% este ano e uma diminuição para 3,8% e 3,9% em 2018 e 2019, respetivamente.

O relatório elaborado pelo departamento de Assuntos Económicos e Sociais da ONU, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) e as cinco comissões regionais prevê uma redução da inflação, de quase 20% no ano passado para 7% este ano, 6% em 2018 e 6,5% no ano seguinte.

Também esta semana foi aprovado pelo Governo um decreto que define os procedimentos de emissão e gestão da dívida pública, incluindo a prestação de garantias pelo Estado.

O decreto estabelece "o que é necessário para o Governo contrair uma dívida e o que é necessário para emitir garantias", afirmou o ministro da Economia e Finanças, Adriano Maleiane.

"É um instrumento muito importante que vai permitir que todos os órgãos do Estado e até a sociedade percebam quanto e como emitir garantias", destacou o ministro.

O Governo moçambicano tem sido pressionado pela sociedade civil do país e por instituições financeiras internacionais para ter uma gestão mais transparente da dívida pública, depois da descoberta, a partir de 2015, de avales que o anterior executivo prestou secretamente a favor de três empresas públicas ligadas à pesca e segurança marítima, no valor de 2 mil milhões de dólares (1,6 mil milhões de euros), e que aceleraram o nível e ritmo de endividamento do país.

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