Eurodeputados portugueses apontam "a porta da rua" a Dijsselbloem

por Lusa
Olivier Hoslet - EPA

Os eurodeputados portugueses que intervieram hoje, em Bruxelas, num debate com o presidente do Eurogrupo foram unânimes em apontar a Jeroen Dijsselbloem "a porta da rua", face ao "preconceito" demonstrado relativamente aos países do sul da Europa.

Num debate sobre a segunda revisão ao programa de ajustamento à Grécia, mas que ficou marcado pela polémica em torno da entrevista de Dijsselbloem ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, na qual defendeu que não se pode pedir ajuda depois de gastar o dinheiro em álcool e mulheres, Paulo Rangel (PSD), Pedro Silva Pereira (PS) e João Ferreira (PCP) dirigiram-se ao presidente do Eurogrupo para lhe dizer que não tem condições para continuar no cargo.

"Se ninguém foi capaz de o fazer na reunião do Eurogrupo (de 07 de abril, em Malta), eu aqui, no Parlamento Europeu, digo-lhe cara a acara e olhos nos olhos, que nós não nos satisfazemos com um simples pedidos de desculpas. O senhor presidente do Eurogrupo não tem condições para continuar como presidente do Eurogrupo, porque depois de fazer as declarações que fez mostra que tem um preconceito", declarou Paulo Rangel.

O líder da delegação do PSD ao Parlamento Europeu questionou Dijsselbloem "como é pode estar aqui a falar sobre a Grécia quando tem um preconceito relativamente ao povo grego, ao povo cipriota, ao povo português, que fizeram os maiores sacrifícios, e que o fizeram com governos curiosamente do PPE, quando foram os governos socialistas, da sua família politica, que destruíram as nossas contas públicas".

"Acha que pessoas que tiveram imensos sacrifícios, que tiveram que abdicar dos seus salários, das suas pensões, são pessoas que gastam o dinheiro em copos e mulheres? É essa a sua conceção? Como é que alguém com esta mentalidade tem autoridade e legitimidade para vir aplicar programas e dar soluções, para a Grécia como é o caso de hoje, ou para Portugal ou para Chipre ou para outros países?", questionou.

"Senhor Dijsselbloem, aqui, numa instância que representa os povos europeus, digo-lhe: só tem uma saída, é demitir-se e demitir-se o quanto antes", concluiu.

Por seu turno, Pedro Silva Pereira, do PS, disse a Dijsselbloem que "as explicações que veio dar a este parlamento sobre as suas inaceitáveis declarações sobre os países do sul chegam tarde, não apagam a gravidade dos seus insultos e não lhe devolvem nem a credibilidade nem as condições politicas para prolongar o seu mandato como presidente do Eurogrupo".

Por fim, João Ferreira, do PCP, declarou que se "houvesse da parte das instituições da União Europeia um pingo de respeito pelos povos dos países que o senhor ofendeu e pelas mulheres europeias, e o senhor já não ocuparia esse lugar" enquanto presidente do fórum de ministros das Finanças da zona euro.

"Mostrar-lhe a porta da rua, como lhe fizeram os eleitores do seu país, seria, para não ir mais longe, um ato de elementar bom senso e civilidade. Mas o facto de ainda se sentar aí diz muito do estado miserável a que tudo isto chegou. Pior do que as suas deploráveis declarações é o que elas traduzem de uma realidade, a da zona euro, em que países e povos inteiros são submetidos a relações permanentes de dominação e subjugação, que constrangem e impedem o seu desenvolvimento soberano", sustentou o eurodeputado comunista.

"Senhor Dijsselbloem, apesar de ainda ocupar essa cadeira, não se iluda: aquilo que representa não tem futuro", concluiu. Declarações foram mal interpretadas

O presidente do Eurogrupo, que na sua intervenção inicial reiterou que as suas declarações foram mal interpretadas e que nunca pretendeu ofender os países do sul da Europa, assegurando que a última coisa que quer é criar divisões na zona euro, apontou na intervenção final que aceita as críticas que ouviu durante o debate, dos eurodeputados portugueses e não só, já que ao longo de mais de uma hora foram muitos os que deploraram as declarações do ministro holandês.

"A escolha das palavras foi infeliz, as pessoas ofenderam-se e eu lamento isso, mas o conteúdo permanece válido", disse, reiterando que todos devem respeitar aquilo com que se comprometeram.

"Nessa entrevista, defendi que respeitar a moldura acordada entre nós é crucial para manter a confiança e a solidariedade na zona euro. Nos dias que se seguiram, as minhas palavras foram, no entanto, relacionadas com a situação no período da crise e com os países do sul da Europa, e isso é muito lamentável, pois não foi o que disse e, certamente, não era o que eu queria dizer. Os anos da crise tiveram impacto nas sociedades por toda a zona euro e União, com grandes custos sociais, e a solidariedade foi justificada", declarou.

Na entrevista em causa, concedida em março ao jornal alemão, Dijsselbloem declarou que não se pode pedir ajuda depois de se gastar todo o dinheiro em álcool e mulheres, o que provocou uma onda de indignação, tendo mesmo o Governo de António Costa reclamado a sua demissão, por entender que o ministro holandês não tem condições para continuar à frente do fórum de ministros das finanças da zona euro.

"A forma como me expressei ofendeu alguns e, por isso, lamento muito. Obviamente que nunca foi minha intenção ofender ninguém. Trabalhei ao longo dos últimos quatro anos com vista a unir mais a zona euro, e a última coisa que quero é criar novas divisões", acrescentou Dijsselbloem.

No início de abril, por ocasião de uma visita oficial ao Luxemburgo, o primeiro-ministro António Costa voltou a defender que Jeroen Dijsselbloem não tem a menor condição" para continuar a presidir ao Eurogrupo, e lamentou que o político holandês nem sequer se retrate das ofensas dirigidas aos países do sul.

"O presidente do Eurogrupo deve ser um mobilizador, e não um fator de divisão. O senhor Dijsselbloem já mostrou por diversas vezes que não é capaz de ser um mobilizador, e desta vez foi particularmente ofensivo relativamente aos países do sul. E, falando muito francamente, pior do que ele disse ao [jornal] Frankfurter Allgemeine Zeitung, são as explicações que tentou dar, pois demonstraram que ele não compreende o que fez e como ofendeu profundamente os povos do sul da Europa", declarou o chefe de Governo.  

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