Fecho dos casinos pode trazer exigências das operadoras de jogo em Macau

por Lusa

Analistas admitiram hoje, a cerca de 24 horas da reabertura dos casinos de Macau, novas reivindicações das concessionárias para as licenças de jogo, em 2022, para se precaverem de situações excecionais como o surto do novo coronavírus.

O analista de jogo David Green disse à Lusa que "esta interrupção afetará a nova licitação/renegociação das concessões dos casinos", numa referência à decisão tomada, em 04 de fevereiro, pelo Governo de Macau de fechar os casinos durante 15 dias.

"Os operadores de jogo estarão muito menos inclinados a assumir compromissos adicionais de investimento ou a pagar uma grande taxa inicial pela concessão de uma nova concessão", frisou o fundador da consultora especializada em regulação de jogos em Macau Newpage Consulting.

Já o economista José Luís de Sales Marques apontou ser ainda cedo para prever alterações que podem constar no caderno de encargos, ou até na própria lei.

"Agora, sem dúvida, qualquer investidor reage perante os dados que são o histórico da sua atividade e também o que eles preveem que seja o futuro. E o facto de os casinos estarem fechados não constava do histórico da atividade do jogo em Macau", sublinhou.

"A partir agora passa a fazer parte do histórico e, portanto, isso vai ter algumas implicações, quer queiramos, quer não", frisou o professor de Ciência Política e Relações Internacionais do Instituto Politécnico de Macau (IPM).

A atribuição de novas licenças na capital mundial do jogo será feita em 2022, tendo o Governo de Macau prometido a realização de um concurso público. O território é o único local na China onde o jogo em casino é legal, contando seis concessionárias e subconcessionárias, Sociedade de Jogos de Macau, fundada pelo magnata Stanley Ho, Galaxy, Venetian (Sands China), Melco Resorts, Wynn e MGM.

Na segunda-feira, o Governo de Macau anunciou que quinta-feira os casinos do território vão poder reabrir as portas, encerradas há cerca de 15 dias para evitar a propagação do surto do novo coronavírus na capital mundial do jogo.

O Governo de Macau deu aos casinos um período de transição de 30 dias, a partir das 00:00 de dia 20 para poderem começar a abrir as portas. Findo esse período, todos os casinos devem estar abertos, indicou.

As operadoras de jogo, que durante os 15 dias de encerramento dos casinos perderam 1,5 mil milhões dólares (1,4 mil milhões de euros), segundo agência de notação financeira Fitch Rating, vão continuar com receitas muito baixas a curto prazo, devido ao reduzido número de turistas no território, sustentaram analistas ouvidos pela Lusa.

No domingo passado, entraram cerca de 1.400 turistas em Macau, que recebe normalmente mais de três milhões de turistas mensais, a esmagadora maioria deles provenientes da China continental.

"Acho que tanto o mercado VIP [grandes apostadores] quanto o de massas serão fortemente afetados durante este tempo", afirmou à Lusa o diretor do Centro de Pesquisa e Ensino do Jogo do IPM, Changbin Wang.

Uma situação que se vai manter após o surto em Macau ficar controlado, frisou. "Não consigo ver o sinal de recuperação rápida. A economia chinesa vai desacelerar ainda mais", defendeu.

Também David Green disse acreditar que os danos económicos infligidos pelo surto de coronavírus afetarão significativamente o jogo de massas", mas também o mercado das grandes apostas "por medo de serem expostos a infeções ou serem involuntariamente colocados em quarentena".

Em 2019, os casinos obtiveram receitas de 292,46 milhões de patacas (cerca de 32,43 milhões de euros), menos 3,4% do que no ano anterior.

O Covid-19 causou até agora na China continental 1.868 mortos e um total de 72.436 infetados, indicou hoje a Comissão de Saúde da China.

Além das vítimas mortais na China continental, há a registar um morto na região chinesa de Hong Kong, um nas Filipinas, um no Japão, um em França e um em Taiwan.

Embora cerca de 30 países tenham casos diagnosticados com Covid-19, a China regista perto de 99% do total global de infetados.

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