Fitch retira dívida pública portuguesa do “lixo”

por RTP
Reuters

A agência de notação financeira Fitch publicou esta sexta-feira o relatório de revisão do rating e retirou Portugal do nível de lixo. A subida de rating foi de dois níveis. A dívida portuguesa subiu rating de BB+ para BBB. A subida do rating poderá ter efeitos positivos ao nível dos custos de financiamento. Além de uma descida dos juros, a dívida portuguesa passa a estar incluída nos principais índices de obrigações, podendo ser comprada por investidores de peso.

Depois da Standard & Poor's ter tirado Portugal do "lixo" no passado dia 15 de setembro, chegou a vez da agência de rating Fitch tirar a dívida pública nacional do “lixo”.

A melhoria da sustentabilidade da dívida pública e a redução das vulnerabilidades externas terão sido os dois principais fatores chave para que a Fitch melhorasse o rating atribuído a Portugal.

O Governo reagiu à notícia em comunicado, destacando que "nunca antes uma das três principais agências de rating tinha decidido, num só momento, aumentar em dois escalões a avaliação da dívida soberana portuguesa".

“A magnitude sem precedentes desta reavaliação foi possível, como refere a agência, pela recente inflexão positiva e estrutural verificada em áreas chave", acrescenta o comunicado do Ministério das Finanças.
Favorecer "as famílias e as empresas"
"A robustez do crescimento desde meados de 2016; o dinamismo da criação de emprego e a queda do desemprego para 8,5%; o recente fortalecimento do setor financeiro; a perspetiva constante do cumprimento das metas orçamentais e a firme e sustentável redução da dívida pública que começou a ser registada no corrente ano”, foram as razões apresentadas para a subida do rating, refere o texto das Finanças.

Com esta alteração, Portugal irá alargar muito o número de possíveis investidores na sua dívida, passando a ser elegível para constar em vários índices.

O Ministério das Finanças realça que além de favorecer "as condições de financiamento da República, esta avaliação favorece também as condições de financiamento das famílias e das empresas portuguesas".



O Governo promete prosseguir os esforços que permitiram ao país chegar aqui e destaca que "acreditou, sempre, que os esforços levados a cabo por Portugal ao longo dos anos deveriam colher este reconhecimento atingido com base num modelo económico sólido, equilibrado e inclusivo".
Fitch estima mais défice do que Governo
A agência Fitch considerou, em comunicado, que há a expetativa de que uma descida em mais de três pontos percentuais do rácio da dívida pública este ano, para menos de 127 por cento do PIB. A Fitch considera que a dívida está “numa trajetória de descida firme” e que descida irá continuar a médio prazo.

A Fitch diz que esta dinâmica se deve a reformas estruturais anteriores, recuperação económica cíclica e melhoria substancial das condições de financiamento.

"Apesar da forte performance nos trimestres recentes, a Fitch mantém a sua assunção de um crescimento potencial de médio prazo em torno dos 1,5%", lê-se no relatório da agência.

A agência destaca ainda a melhoria nas contas públicas, um saldo corrente positivo pelo quinto ano consecutivo, uma recuperação cíclica forte, a recapitalização da CGD e BCP, a venda do Novo Banco e a melhoria das condições de financiamento.

A Fitch considera que o défice vai ficar sem alterações nos 1,4 por cento em 2018, baixando para 1,2 por cento em 2019, apesar de considerar que estes números não cumprem na totalidade os requisitos do Pacto de Estabilidade e Crescimento.
Redução da despesa e crescimento forte
Em junho, a agência Fitch já tinha anunciado uma melhoria da perspetiva de "estável" para "positiva", justificada também pela redução acentuada do défice, levando ao fim do Procedimento por Défice Excessivo (PDE) formalizado Comissão Europeia em junho.

A Fitch destacou a redução da despesa e o crescimento mais forte verificado a partir de meados de 2016, que na opinião da agência deverá continuar, culminando num défice de 1,4 por cento em 2018.

Também no passado mês de junho, a Fitch previu um crescimento da economia portuguesa de dois por cento este ano e de 1,6 por cento no próximo, mas colocou um ponto de interrogação no setor financeiro, elegendo-o como um fator de incerteza na evolução do país.

Também um dos bancos mais influentes no mercado de dívida europeia já tinha referido em novembro que era “provável” que a agência Fitch também se decidisse por atribuir um "rating" de qualidade a Portugal, a 15 de dezembro.
Momentos chave
O dia 6 de abril de 2011 ficará para a história como o dia em que Portugal pediu ajuda financeira externa ao Fundo Monetário Internacional (FMI), Comissão Europeia e Banco Central Europeu (BCE).

Foi José Sócrates quem fez o pedido, depois de semanas conturbadas marcadas pelo chumbo de mais um PEC – Programa de Estabilidade e Crescimento.

Portugal pediu o resgate de 78 mil milhões de euros ainda sob a chancela de ratings de investimento por parte das três grandes agências do setor, nomeadamente, S&P, Fitch e Moody’s.

Mas não tardou muito para que Portugal fosse atirado para o “lixo”, levando muitos dos habituais investidores em títulos soberanos a afastarem-se. A Moody’s foi a que esperou menos tempo para agir e a 5 de julho de 2011 cortou a avaliação de Portugal para Ba2. Já a agência Fitch e S&P demoraram um pouco mais.

Portugal começou a ficar afastado dos mercados internacionais e deixou de emitir obrigações do Tesouro, passando a recorrer apenas a bilhetes do Tesouro adquiridos em grande parte pelos bancos nacionais.

A Fitch tirou a classificação de investimento a Portugal no 24 de novembro de 2011, enquanto a S&P deixou entrar o novo ano para fazer cair para “lixo” a dívida pública nacional. Foi no dia 13 de janeiro de 2012 que baixou a classificação para BB+.



pub