Greve de camionistas. Governo espera "evitar situações desconforto"

por Carlos Santos Neves - RTP
“O que fizemos foi transformar uma rede de postos em todo um sistema logístico”, afirmou o ministro do Ambiente, Matos Fernandes Tiago Petinga - Lusa

O sistema de resposta aos previsíveis efeitos da greve marcada para agosto pelos motoristas de transporte de matérias perigosas passa pelo desenvolvimento de uma rede pré-existente de “postos estratégicos para abastecimento do país”, indicou esta quinta-feira o ministro do Ambiente, Matos Fernandes. O mecanismo, que fora já sinalizado pelo secretário de Estado da Energia, João Galamba, não se traduz, todavia, numa “vida normal”.

“Existia uma rede de postos estratégicos para abastecimento do país em casos de rutura ou em casos graves como este e aquilo que nós fizemos foi desenvolver essa mesma rede”, explicou Matos Fernandes, em declarações aos jornalistas no Ministério do Ambiente.“Oxalá não tenhamos que utilizar essa rede”, afirmou o ministro do Ambiente, referindo-se ao pré-aviso de greve dos motoristas de transporte de matérias perigosas, com início previsto para 12 de agosto.


“Hoje temos já definidos quais são, ao longo de todo o país, os postos que são para abastecimento exclusivo das forças de segurança, dos bombeiros, das ambulâncias que transportam doentes, quais os postos que têm também que ter combustível para servir o comum dos cidadãos”, continuou o governante, adiantando ainda que foram somadas infraestruturas como os aeródromos, locais de abastecimento de aeronaves envolvidas no combate a incêndios.

“O que fizemos foi transformar uma rede de postos em todo um sistema logístico. Sabemos hoje quais os locais onde existe o combustível que é distribuído para esses pontos, quais os percursos que têm que ser feitos e de que meios necessitamos para o fazer”, insistiu o ministro do Ambiente.

A rede será ajustada após a definição de serviços mínimos. E terá “a dimensão de garantir uma quantidade mínima de combustível em todo o país”, sendo que não vai acautelar “uma vida normal”, embora o Governo acredite que seja suficiente para “evitar situações de desconforto”.

“É toda uma logística montada com o tempo para assegurar que o prejuízo causado será o menor possível”, acentuou.

O ministro quis ainda garantir que a rede de postos estratégicos irá “muito para além” dos 25 por cento de serviços mínimos propostos pelos sindicatos que representam os motoristas.
“Completamente despropositadas”

As estruturas sindicais mostram-se surpreendidas com as declarações do secretário de Estado da Energia. Em declarações à rádio TSF e ao Dinheiro Vivo, João Galamba deu conta da preparação de “uma rede de abastecimento de emergência”, em caso de incumprimento de serviços mínimos.
No pré-aviso do SNMMP e do SIMM, são propostos serviços mínimos de 24 por cento em todo o território do país. Na primeira greve, em abril, estes serviços eram de 40 por cento, mas somente em Lisboa e Porto.

Ouvido pela agência Lusa, o secretário da Assembleia do Sindicato Independente de Motoristas de Mercadorias (SIMM), Anacleto Rodrigues, considerou as palavras do secretário de Estado “completamente despropositadas”.

Foi, de resto, com “total surpresa” que o SIMM recebeu as declarações de João Galamba. Isto porque os sindicatos aguardam ainda uma reunião com a tutela para determinar serviços mínimos.

Por seu turno, o presidente do Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP), Francisco São Bento, afirmou que o Governo parece querer “contornar o problema em vez de encontrar uma solução”.

Sindicatos de camionistas e ANTRAM – Associação Nacional de Transportes Públicos Rodoviários de Mercadorias não chegaram a acordo na passada segunda-feira, ao cabo de uma reunião cerca de cinco horas mediada pelo Ministério do Trabalho.

Já a ANTRAM disse-se convicta de que os sindicatos “nunca tiveram intenção de chegar a entendimento”. A associação está a percorrer toda a documentação relativa ao processo negocial. Se concluir que faltou boa-fé, tal “não poderá deixar de ter as naturais consequências legais”, segundo o advogado André Matias de Almeida, também citado pela Lusa.

“O Governo esteve à mesa das negociações e sabe quem esteve de boa-fé e quem esteve de má-fé”, vincou o representante da ANTRAM, que vê com “total normalidade” as declarações do secretário de Estado da Energia, dado que “nenhum Governo pode permitir uma situação de crise energética”.

c/ Lusa

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