Groundforce. Alfredo Casimiro aponta "enorme gravidade" em pedido de insolvência

por RTP
Lusa

O principal acionista da Groundforce considera que "a decisão da TAP de requerer, com o patrocínio do Governo, a declaração de insolvência" da empresa de handling é de "enorme gravidade e irresponsabilidade". Em nota divulgada esta terça-feira, Alfredo Casimiro afirma que esta via "não resolve o problema".

A Groundforce não é um problema para a TAP. A TAP, sim, é um problema para a Groundforce. Nenhum dos graves problemas que a TAP enfrenta se resolverá à custa da Groundforce. É, por isso, irresponsável, agravar a situação da Groundforce porque, inevitavelmente, isso agravará também a situação da TAP e de todos os trabalhadores deste universo”, lê-se no comunicado.

Alfredo Casimiro acusa o Governo de ter mantido “sempre dois pesos e duas medidas, senão mesmo duas caras”.

“Usou uma cara para lidar com uma empresa pública que nacionalizou, a TAP, e outra cara para lidar com uma empresa privada que parece querer nacionalizar, a Groundforce. Tal comportamento é inaceitável num Estado de Direito. A crise pandémica afetou, de igual modo, empresas públicas e privadas. Reiteramos que é, portanto, inaceitável que um Governo use dois pesos e duas medidas, consoante gosta ou não gosta de uma empresa, respeita ou não respeita um empresário”.
Argumenta ainda Alfredo Casimiro que “uma empresa viável e estratégica para Portugal, que dá emprego a 2400 pessoas, está hoje em risco por causa de decisões precipitadas como esta, fruto de impulso e tomadas em nome da ambição política e não do superior interesse do país”.

“As consequências são óbvias: com a instabilidade que está a ser criada, ambas as empresas, TAP e Groundforce, terão menos condições para iniciar o processo de recuperação económica e financeira à medida que a conjuntura o for permitindo”, lê-se no texto.

A administração da Groundforce, vinca Casimiro, “reitera a sua disponibilidade para encontrar uma solução que proteja os interesses dos trabalhadores, dos acionistas e, em última instância, do País. Pela minha parte, enquanto acionista, utilizarei todos os mecanismos legais ao meu dispor para defender os legítimos interesses da empresa e da Pasogal”.
“Surpreendido”
Alfredo Casimiro recorda que assumiu “a gestão da Groundforce em 2012, depois de seis anos de gestão pública, em que a empresa acumulou prejuízos de quase 152 milhões de euros”.

“Entre 2012 e 2019, a empresa deu lucros superiores a 28 milhões de euros. Salvei a empresa sem despedir um único trabalhador. Em 2020, por causa da pandemia, fiz o que fizeram dezenas de empresas do setor da aviação que viram a sua atividade paralisada e pedi ajuda. Quase um ano depois, e porque essa ajuda nunca chegou, anunciei que nada mais me restaria do que vender a minha participação maioritária na Groundforce”, acrescenta.A TAP não aderiu à proposta de destituição do presidente executivo da Groundforce apresentada pela Pasogal, de Alfredo Casimiro, abstendo-se na votação.

“Entre os potenciais compradores que já manifestaram interesse está uma empresa belga que beneficiou de ajudas estatais, na mesma altura em que eu as solicitei em Portugal e me foram negadas. É com profunda tristeza que me vejo forçado a vender, mais ainda sabendo que estou a passar para mãos estrangeiras uma empresa estratégica para a economia portuguesa”, acentua o empresário, para afirmar que foi “surpreendido” pelo pedido de declaração de insolvência: “Soube pelos jornais, pouco depois de ter estado reunido com a TAP em Assembleia Geral de Acionistas, sem que me tivesse sido dita uma única palavra sobre a decisão”.
Na “qualidade de credora”

A TAP requereu ontem, na "qualidade de credora", a insolvência da SPdH - Serviços Portugueses de Handling, S.A. (Groundforce) “junto dos Juízos de Comércio de Lisboa do Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa”, confirmou a transportadora em comunicado.

O objetivo da ação passa por, “se tal for viável”, acautelar “a viabilidade e a sustentabilidade da mesma, assegurando a sua atividade operacional nos aeroportos portugueses”.A TAP sustenta que o pedido de insolvência da Groundforce ”não impede” o processo de venda de 50,1 por cento da Pasogal, de Alfredo Casimiro, anunciado no fim de semana.


“A Groundforce presta atualmente à TAP serviços de assistência em escala nos aeroportos de Lisboa, Porto, Faro, Funchal e Porto Santo, e é também uma empresa participada pela TAP e pela Portugália”, lembrou a companhia aéra, sublinhando que “a participação minoritária que o grupo TAP detém na Groundforce não lhe permite pesar decisivamente nas opções estratégicas e na condução dos negócios desta sociedade, em sede de decisões do seu Conselho de Administração”.

A TAP assinala o “agravamento da situação financeira” da Groundforce, a “inexistência de soluções credíveis para a possibilidade de obtenção de financiamento (em particular, face à recusa de financiamento e de prestação de garantia por parte da Caixa Geral de Depósitos e do Banco Português de Fomento)”, a “recente decisão unilateral (e ilegal) da Groundforce de considerar inválidos e ineficazes os contratos celebrados em 19 de março de 2021 com a TAP, observando-se o seu incumprimento por falta de pagamento do aluguer dos equipamentos vendidos à TAP” e a “falta de condições que, na perspetiva da TAP, o acionista maioritário da Groundforce tem para restabelecer a confiança dos seus credores”.

A companhia entende, assim, que “esgotou todas as hipóteses de encontrar com o acionista maioritário da Groundforce (Pasogal, de Alfredo Casimiro) uma solução que permita garantir um horizonte futuro para a empresa”.

“No curto prazo, a declaração de insolvência, uma vez aceite, permitirá a nomeação de um Administrador de Insolvência”, sendo esta, “para a TAP, a solução transitória que melhor permite restaurar a confiança na gestão da Groundforce”.

c/ Lusa
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