Hello ou arrivederci?

por Rosário Lira - Jornalista Antena1/RTP
Jerome Powell Yuri Gripas, Reuters

Sintra podia ser uma "mini Davos". A sugestão foi feita informalmente por um dos académicos que participou na reunião do BCE que ontem terminou.

Este ano a presença no encontro, pela primeira vez, de Jerome Powell, presidente da Reserva Federal elevou a fasquia das participações e a visibilidade internacional.

Isto porque Mário Draghi, o presidente do Banco Central Europeu, ao anunciar dias antes o fim do "quantitative easing" quebrou as expectativas que pudessem existir sobre eventuais novidades no encontro de Sintra.

Na prática foi mesmo o que aconteceu. Tanto assim que quando lhe foi pedido para precisar melhor o momento do eventual aumento das taxas de juro, o presidente do Banco Central não quis adiantar detalhes, remetendo-se e lendo repetidamente o que já tinha dito no final da reunião do BCE.

Prudência e persistência tem sido as suas máximas e, em Sintra, Mario Draghi esteve igual a si próprio reiterando o objetivo definido sem hesitações e com confiança nas projeções: atingir uma taxa de inflação de 2% e se for necessário voltar a usar a mesma ferramenta, a compra de ativos, para estabilizar o mercado e evitar a retração da inflação.

Com Mario Draghi em modo "light" sem novidades mas muito firme nos seus propósitos, todas as atenções recaíram em Powell e no que poderia dizer, num momento em que os Estados Unidos anunciaram a aplicação de taxas à importação de alumio e aço.

Powell foi cauteloso e trouxe uma mensagem de confiança ao adiantar que vai continuar a aumentar as taxas de juro porque a economia está a crescer e o mercado ainda consegue criar mais empregos. Não deixou contudo de reconhecer que as intenções de investimento estão à espera de melhores dias, ou de uma clarificação do que vai ser a politica protecionista norte-americana e como vai a Europa responder.

Da parte de Mario Draghi ficou claro que decisões unilaterais não são aceitáveis.

Reunidos num painel de debate que incluiu ainda Philip Lowe, do Banco da Reserva da Australia e Haruhico Kuroda, do Banco Central do Japão, o presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos quis com a sua presença em Sintra lançar uma campanha de charme e mostrar alguma confiança aos seus parceiros mundiais.

Por sua vez Mario Dhaghi ao ter Jerome Powell ao seu lado também quis fazer passar uma mensagem de diálogo, apesar dos ventos de mudança que vem do outro lado do Atlântico, e de alinhamento com a formula usada pelos Estados Unidos ao sair do seu programa de "quantitative easing" e que, tal como deverá acontecer na Europa, só aumentou os juros um ano depois.

Mas como quando se começa uma batalha a retirada é sempre mais difícil do que o início do combate, neste processo do fim de compra de ativos todos partilham uma preocupação: a necessidade de ter uma inflação controlada que produza os efeitos esperados na economia e um mercado de trabalho que se vá adaptando a esta necessidade, com redução do desemprego e um aumento moderado dos salários.

A ver vamos se este diálogo Europa/Estados Unidos que os dois responsáveis pela politica monetária quiseram mostrar tem consequências a outros níveis de decisão ou se também ele será interrompido por manifesta incapacidade de quem toma decisões politicas.
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