Indústria boicota lei europeia sobre perigosidade dos polímeros, acusam ambientalistas

por Lusa
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A União Europeia pretende começar no próximo ano a testar a perigosidade dos polímeros, mas a indústria está a boicotar a iniciativa e só 6% dos polímeros deverão ser investigados, acusa a rede ambientalista europeia EEB.

Num comunicado hoje divulgado o Gabinete Europeu do Ambiente (EEB na sigla original), a maior rede de organizações ambientais da Europa, garante que a iniciativa da União Europeia para investigar as ameaças para o ambiente e para a saúde pública causadas pelos polímeros está afinal a ser "minada" pelo lóbi da indústria.

Os polímeros são o principal ingrediente de produtos como o plástico, resinas ou tintas e a poluição generalizada que causam afeta já as placentas humanas e os cérebros, fígado e rins dos animais, alerta o EEB, que diz, citando peritos da Comissão Europeia, que cerca de metade de todos os polímeros podem ser perigosos para a saúde humana e para o ambiente.

Quando a União Europeia está a preparar as primeiras regras para investigar e regular os impactos na saúde da poluição por polímeros, dizem os ambientalistas que é a indústria química quem mais está a influenciar as decisões, e fazer com que 94% dos polímeros escapem à regulamentação.

A lacuna na compreensão dos riscos dos polímeros foi referida pela Comissão Europeia em outubro de 2020, quando anunciou testes de risco químico obrigatórios sobre os polímeros a partir de 2022, um primeiro passo para proibir a sua comercialização.

Até agora, dizem os ambientalistas, a indústria tem evitado a regulamentação, alegando que os polímeros são moléculas demasiado grandes para atravessar membranas humanas, embora já tenham sido encontrados em placentas.

E agora que a Comissão Europeia apresentou um projeto de lei sobre a matéria, as questões das organizações não governamentais ligadas ao ambiente não são relevadas, ao contrário "das exigências da indústria", segundo a avaliação do EEB.

"Apenas 12.000 (6%) de um total estimado de 200.000 polímeros no mercado terão de efetuar controlos de segurança, preveem os peritos da Comissão. E a proposta de lei não exige que a indústria forneça sequer informações básicas sobre a identidade ou quantidade de polímeros. Todos os polímeros produzidos em massa que estão a acumular-se no ambiente, tais como poliestireno, poliéster, polietileno e polipropileno, escaparão à supervisão, apesar dos seus riscos. Isto levou um grupo de 30 cientistas a avisar a Comissão Europeia de que todos os polímeros deveriam ser regulamentados", diz o EEB no comunicado.

O EEB nota que os polímeros são substâncias químicas, e lembra que a lei europeia exige que a indústria prove que os produtos químicos são seguros antes de poderem ser vendidos. E acrescenta que tal é "largamente negligenciado por uma indústria química que vale 542 mil milhões de euros por ano e que é detida por alguns dos homens mais ricos e poderosos da Europa".

A Comissão Europeia tem feito encontros com representantes dos Estados membros, da indústria e das organizações não governamentais para adaptar a proposta, mas as conversações são dominadas por 10 grandes grupos industriais, acusa o EEB, uma das poucas organizações não governamentais que está presente nas reuniões.

A próxima reunião está agendada para terça-feira.

Estudos indicam que os polímeros podem provocar inflamações ou toxicidade celular. Os impactos na saúde dos microplásticos e das fibras foram já largamente estudados e indicam, refere o comunicado, que aumentam o risco de neoplasias, que prejudicam a saúde respiratória e que perturbam o sistema imunitário e o sistema nervoso.

Dolores Romano, do EEB, diz, citada no comunicado, que a poluição por polímeros está "fora de controlo".

"Estamos diariamente expostos a ela, pois são utilizados em plástico, têxteis, produtos de limpeza e até cosméticos. Costumávamos pensar na poluição do plástico como uma massa de lixo volumosa no ambiente. Agora sabemos que se desfaz numa vasta nuvem de micro e nanoplásticos contaminando a terra, a água e o ar, assim como aparecendo no nosso corpo", alerta a especialista, adiantando que já que se sabe que muitos polímeros são tóxicos, a segurança dos restantes deve ser verificada e não se deve perder a oportunidade e deixar que a indústria química a impeça.

A versão final do documento deve ser conhecida no final do ano.

Os polímeros são grandes moléculas e existem também naturalmente no corpo humano. Os polímeros químicos vão do polietileno dos sacos de plástico, ao policarbonato dos discos CD, ao `teflon` das frigideiras, ao poliéster do vestuário ou ao `kevlar` dos coletes à prova de bala.

 

 

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