Jovens criam plataforma para "facilitar trabalho" dos jornalistas através da tecnologia

por Lusa

Lisboa, 30 nov (Lusa) -- Dois jovens portugueses criaram uma plataforma que visa "facilitar o trabalho" dos jornalistas através da análise automática de texto, projeto que recebeu um financiamento de 50 mil euros da Google e que estará disponível em 2019.

António Bernardino e Daniela Gonçalves são os criadores da `startup` Plicca que, através de ferramentas de inteligência artificial, promete "conseguir facilitar o trabalho dos jornalistas", explicou a jovem, em declarações à agência Lusa.

"Existem coisas muito práticas que dão muito jeito nas redações, como por exemplo a sugestão de título, de palavra-chave, de análise sintática e gramatical do texto, a sugestão de imagem para agregar ao texto, de forma a ilustrar a notícia", exemplificou Daniela Gonçalves.

E foi nesse sentido que os antigos alunos da Universidade Nova de Lisboa (aos quais se juntou outro jovem programador, Pedro Barroca) criaram o Plicca, em dezembro do ano passado.

Inicialmente, este era um projeto secundário, visto que os jovens estavam a trabalhar nas áreas em que se formaram -- Engenharia Eletrotécnica e Ciências da Comunicação --, mas isso mudou neste verão, quando receberam um financiamento de 50 mil euros ao abrigo da Google Digital News Initiative, organização criada pela `gigante` tecnológica para apoiar iniciativas na área do jornalismo.

"O que acontecia era que estávamos cada um nos seus trabalhos e isto era um projeto a título pessoal", mas "com este financiamento conseguimos deixar os trabalhos que tínhamos para nos dedicarmos a 100%", observou António Bernardino.

Em desenvolvimento está, por isso, "uma plataforma em que as pessoas podem, com o texto que estão a publicar, fazer perguntas ao sistema, como, por exemplo, qual é a audiência que se espera com o texto, se é um texto que está mais virado para [...] Economia ou de Política, para pessoas mais jovens ou mais velhas", indicou.

Ao mesmo tempo, será possível analisar "a mensagem de texto, o sentimento do texto, o tema que está a ser escrito -- se é positivo ou negativo --, a forma como a pessoa está a escrever e depois, com estes parâmetros todos, [...] o programa dá sugestões para se chegar melhor à audiência pretendida ou à audiência mais indicada", acrescentou o jovem.

Por detrás estão ferramentas de inteligência artificial, assentes em tecnologias de `deep learning` (aprendizagem profunda) e de `natural language processing` (processamento da linguagem), áreas ainda pouco exploradas e que requerem investigação.

A estimativa é que a plataforma Plicca esteja operacional, ainda numa versão piloto, "no final de 2019", segundo António Bernardino.

Até lá, os jovens estão a "tentar fazer parcerias" com órgãos de comunicação nacionais, sendo que, depois de a plataforma estar operacional, o acesso será feito por subscrição.

"Vamos ter três níveis distintos e, dependendo do nível que a pessoa pague, vai ter acesso a mais ou a menos funcionalidades", apontou António Bernardino.

Os futuros clientes serão, assim, "meios de comunicação digitais, [...] mas também as redações clássicas, porque em todo o processo de escrita podem ser inseridos estes modelos", referiu Daniela Gonçalves.

A jovem assinalou que a estes acrescem entidades como a agências de comunicação ou de publicidade.

"No fundo, acaba por ser uma espécie de automatismo de revisão e sugestão para os textos e isso pode adaptar-se tanto à área do jornalismo como a outras que façam uso da língua portuguesa", adiantou.

Garantido pelos jovens está que a plataforma servirá para "ajudar as pessoas e não para as substituir".

"Há um grande medo de a inteligência artificial roubar trabalhos, mas não, só vem ajudar a resolver problemas", concluiu António Bernardino.

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