Menos crescimento, mais défice. OCDE acerta previsões

por Carlos Santos Neves - RTP
O secretário-geral da OCDE, Angel Gurría Michele Tantussi - Reuters

A economia portuguesa deverá crescer 1,8 por cento este ano, aquém dos 2,1 previstos em novembro, estima a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico. Ritmo que fica uma décima abaixo da previsão do Governo. No Economic Outlook, divulgado esta terça-feira, o cálculo do rácio do défice orçamental sobre o PIB é agravado para 0,5 por cento, contra a anterior previsão de 0,2. O retrato é, ainda assim, de estabilidade.

Para 2020, indica o Economic Outlook, a OCDE prevê um crescimento de 1,9 por cento para a economia portuguesa.A OCDE corrige a previsão de crescimento da Zona Euro em 2019 para 1,2 por cento, mais duas décimas face a novembro. Todavia, antevê efeitos negativos da incerteza política.

“Prevê-se que o crescimento económico continue estável, em 1,8 e 1,9 por cento em 2019 e 2020”, lê-se no relatório da organização, que aponta também para a continuação do aumento do consumo privado, “em resposta ao crescimento persistente do emprego e, mais recentemente, aos aumentos salariais”.

A OCDE estima que a taxa de desemprego de Portugal seja este ano de 6,3 por cento, menos uma décima face à previsão avançada em novembro e aquém da estimativa de 6,6 por cento estabelecida pelo Governo de António Costa.

Em 2020 deverá cair para 5,9 por cento. O Executivo espera, para o próximo ano, 6,3 por cento.

“O crescimento do investimento empresarial deve permanecer robusto”, indica ainda o relatório agora publicado, para contrapor que “o crescimento das exportações vai diminuir no quadro do enfraquecimento da atividade económica nos principais parceiros comerciais” do país. Ou seja, Espanha, Alemanha e Reino Unido.
Contas públicas
Ainda de acordo com o Economic Outlook, o desempenho económico português continuará a encontrar sustentação nas políticas orçamentais em 2019 e no próximo ano.

“Os profundos cortes temporários de salários no sector público no pico da crise foram revertidas, o emprego público volta a crescer e novas mudanças em políticas fiscais e de benefícios deverão apoiar o aumento do rendimento disponível”, vaticina a OCDE.

A organização considera “fundamental” que o poder político do país revitalize “os projetos de investimento público com elevados retornos económicos”, tendo em conta “o rápido envelhecimento da população” e o “lento crescimento da produtividade”.

Assim, o peso do défice sobre o Produto Interno Bruto deverá estabelecer-se em 0,5 por cento em 2019, igual ao ano anterior – em novembro, a OCDE previa uma derrapagem de 0,2 por cento, a repetir a estimativa do Governo.

Em 2020, o défice do Estado chegará, na perspetiva da organização, a 0,2 por cento. Recorde-se que em novembro a OCDE previa um excedente de 0,1 por cento. Lisboa está a contar com um excedente de 0,3.

Neste capítulo, há um alerta no relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico: o risco de maiores restrições financeiras; particularmente, uma subida das taxas de juro nos mercados com impacto nos consumos de empresas e famílias e no volume do crédito malparado na banca.
“Frágil economia mundial”
Quanto à economia mundial, a OCDE pinta um quadro de fragilidade, apelando a “urgente cooperação”. A previsão de crescimento deste ano cai para 3,2 por cento, menos uma décima por comparação com o que foi previsto há dois meses. Para o próximo ano, preserva-se a estimativa de 3,4 por cento.

“Esta desaceleração é generalizada, prevendo-se uma moderação do crescimento este ano em quase todas as económicas”, indica o relatório, que aponta para a expectativa de enfraquecimento do comércio global em 2019, para perto de dois por cento: trata-se da “taxa mais fraca desde a crise financeira”.

O Economic Outlook traça, para os Estados Unidos, uma previsão de crescimento de 2,8 por cento este ano, num aumento de duas décimas face a março e após o crescimento de 2,9 por cento em 2018.

Para o PIB da China é esperada uma progressão económica, este ano, de 6,2 por cento, igual à anterior previsão, ao passo que ao Japão é reservada uma estimativa de crescimento de 0,7 por cento, uma décima aquém da anterior previsão.

Os maiores riscos resultam, em suma, do prolongamento da chamada guerra comercial entre a Administração Trump e o Governo chinês. A que se soma o cenário de entraves comerciais acrescidos entre norte-americanos e europeus.
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