"Não fiz a soma" das participações no BCP financiadas pela CGD, disse Constâncio

por Lusa

Vítor Constâncio, ex-governador do Banco de Portugal (BdP), disse hoje no parlamento que não fez a soma das participações de empresas no BCP financiadas por créditos da Caixa Geral de Depósitos.

"Não fiz a soma", respondeu Vítor Constâncio à deputada do BE Mariana Mortágua durante a sua segunda audição na comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD).

"No espaço de um mês e meio a dois meses, quatro grupos privados estão a comprar ações do BCP com empréstimos da Caixa", revelou Mariana Mortágua, acrescentando que a exposição da CGD ao BCP atingiria, de forma indireta, 8%.

De acordo com a parlamentar do BE, o Banco de Portugal teve conhecimento de quatro pedidos prévios de participação qualificada no BCP, por parte da Teixeira Duarte, grupo Manuel Fino, Metalgest (`holding` ligada a José Berardo) e grupo Goes Ferreira.

Vítor Constâncio confirmou e respondeu que "o Banco de Portugal sabia" dos riscos "e das consequências", mas argumentou que eram "operações legais" e que apenas se tratava "da iniciativa privada a funcionar".

Mariana Mortágua sugeriu que haveria "um problema sistémico quando um banco se expõe desta maneira a outro banco", mas Constâncio respondeu que a exposição não era "direta" e que havia "todo o património" dos acionistas como garantia.

"Esta é a lógica do sistema. Não podíamos interferir legalmente", garantiu o ex-governador do Banco de Portugal.

Constâncio assegurou que as operações de crédito "eram legais, legítimas e não tinham que ser autorizadas pelo Banco de Portugal".

Já sobre o pedido de posição qualificada por parte da Fundação José Berardo, Mortágua disse que o BdP poderia ter "alertado a Caixa" para os riscos de tal exposição ao BCP, e ainda sobre as contas da Fundação.

Sobre a solidez financeira da Fundação José Berardo, Constâncio remeteu a análise para os serviços do Banco de Portugal.

"Foi a conclusão dos serviços e a proposta dos serviços. Eu não fiz a análise financeira da fundação. Perguntem ao Banco de Portugal e peçam explicações ao Banco de Portugal", disse o ex-governador.

Os créditos aos acionistas do BCP, incluindo Berardo, financiados pela CGD "eram motivo de alguma preocupação, mas não se podia fazer nada", concluiu Vítor Constâncio.

 

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