New York Times elogia receita anti-austeridade de António Costa

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Rafael Marchante, Reuters

Os resultados obtidos pelo sector económico português no dealbar da intervenção da troika com a tomada do poder com a aliança à esquerda liderada pelo PS de António Costa mereceu este domingo as atenções do New York Times, que apresenta Portugal como uma receita contra-corrente às receitas que assentaram na austeridade o caminho para sair da crise que há uma década afundou várias economias na Europa. O primeiro-ministro surge, no entanto, contido, ao lembrar que ainda “não passámos do lado escuro para o lado brilhante da Lua”.

O artigo do New York Times pode ser lido como um elogio à política da Geringonça num momento em que o romance entre os socialistas e os seus aliados de governação – Bloco de Esquerda e PCP – não vive os melhores dias. Liz Alderman, correspondente do NYT em Paris, apresenta várias iniciativas empresariais como exemplos de superação das dificuldades que representou a intervenção do FMI e da Comissão Europeia em Portugal.

O caso de Portugal é apresentado como a antítese de parceiros europeus como a Grécia, onde uma década de austeridade redobrada a cada avaliação do FMI não deu outro resultado que o aprofundamento da crise e novo ciclo de cortes, desemprego e conflitualidade política interna e em relação a Bruxelas.

“Quando começámos este processo, muitas pessoas disseram que o que queríamos era impossível. Nós mostrámos que há uma alternativa”
O sucesso para a saída portuguesa deste ciclo negativo, de que os gregos só recentemente terão escapado, está, de acordo com o NYT, na receita que o executivo de António Costa defendeu perante a Comissão Europeia: “aumentou os salários do setor público, o salário mínimo e as pensões, e repôs mesmo os dias de férias para os níveis que vigoravam antes do resgate, apesar das objeções manifestadas pelos credores, como a Alemanha e o Fundo Monetário Internacional”.

António Costa é aqui recuperado numa declaração em que defende que “o que aconteceu em Portugal mostra que demasiada austeridade aprofunda a recessão e cria um círculo vicioso. Nós procurámos uma alternativa à austeridade, focada em mais crescimento e mais e melhores empregos”.

Trata-se de uma receita baseada na confiança, sublinha a correspondente do NYT, que atuou ao nível da disposição colectiva dos portugueses, funcionando dessa forma como uma alavanca da economia nacional. O artigo cita aqui João Borges de Assunção, professor da Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais, da Universidade Católica de Lisboa: “O gasto efetivo com estímulos foi muito pequeno. Mas a mentalidade do país tornou-se completamente diferente e, de uma perspetiva económica, isso tem mais impacto do que a mudança real na política”.

Foi um quadro em que a confiança dos investidores regressou, a produção e as exportações tiveram um impulso decisivo e o crescimento económico apresentou níveis não vistos nesta última década.

Na perspectiva da correspondente do jornal norte-americano, o sucesso registado em Portugal foi reconhecido por Bruxelas e Berlim com a atribuição do cargo de presidente da Comissão Europeia a Mário Centeno - o ministro das Finanças e peça crucial na estratégia que levou à inesperada recuperação de uma economia que até há poucos anos era vista como uma das mais frágeis do conjunto da zona euro.

O jornal deixa uma nota para as dificuldades que estão ainda no horizonte próximo dos portugueses – aponta vulnerabilidades como o crescimento estagnado nos 2,7%, o nível de investimento no patamar mais baixo em quatro décadas ou os 580 euros que fazem do salário mínimo português um dos mais baixos da zona euro - concluindo com o recado de António Costa: “ Nós não passámos do lado escuro para o lado brilhante da Lua. Ainda há muito a fazer”.
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