OE2021. A resposta de Rio a Marcelo, a abertura do BE para negociar e o aviso do PCP

por RTP
José Coelho - Lusa

Estão a aumentar as pressões e as divergências entre esquerda e direita para a aprovação do Orçamento do Estado. Depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter aconselhado a oposição a aprovar o documento, mesmo que a esquerda o reprove, Rui Rio veio já afirmar que é precisamente sobre a esquerda que recai essa responsabilidade. Catarina Martins garante estar disponível para negociar o OE2021 e Jerónimo de Sousa avisa que ninguém se substitui ao PCP na sua posição.

“A oposição, sobretudo a oposição que ambiciona liderar o Governo”, deverá garantir a aprovação do OE “se não for possível esse apoio à esquerda, que é o natural”, considerou o Presidente da República na sexta-feira.

Para o chefe de Estado, pode “custar muito” ao PSD viabilizar o Orçamento, e o partido pode “discordar disto ou daquilo”, mas o mais importante é ver o documento aprovado, especialmente numa altura em que “a pandemia pode estar em números muito altos, em que a crise económica e social pode estar agravada”.

Em resposta, Catarina Martins considerou que não cabe ao Presidente da República encontrar soluções para a aprovação do Orçamento e manifestou-se convicta de que "essas soluções virão do Parlamento, queira o Governo".

A coordenadora do Bloco de Esquerda assegurou ainda que o seu partido se encontra disponível para negociar o OE2021 e disse não ver razão para o Governo precisar do PSD neste campo. “Seguramente, se o PS as quiser construir à esquerda [as soluções para a aprovação], não precisará de negociar com Rui Rio”, frisou.

"Portanto, não há nenhuma razão para o Governo precisar de Rui Rio, a menos que o PS não queira negociar com o BE. Nós estamos cá para construir soluções", reforçou. “Durante quatro anos o Parlamento foi capaz de soluções. O Bloco foi sempre parte dessas soluções e continuamos com essa disponibilidade”.

Mais precisamente, o partido quer “responder a quem perdeu tudo, saber como protegemos o emprego, como é que o Serviço Nacional de Saúde aguenta esta crise e continua a funcionar, como é que usamos bem os dinheiros públicos”.
PSD empurra pressão para a esquerda
Rui Rio também já reagiu às declarações do Presidente da República, considerando que a pressão para a aprovação do Orçamento do Estado não recai sobre o PSD, mas sim sobre a esquerda. As declarações foram feitas à chegada do Conselho Nacional, que aprovou o apoio à candidatura presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa.

"Se o senhor Presidente da República disse que deve haver Orçamento do Estado e não deve haver uma crise, a pressão não é para mim, é para a solução encontrada: PCP, BE, PS ou PS só com um", afirmou o líder social-democrata.

“O PSD, neste momento, independentemente do que pudesse querer, está, por assim dizer, na bancada à espera que o jogo se inicie, que é quando o Governo entregar o Orçamento do Estado no dia 12 de outubro”.

Rui Rio voltou a remeter, como tem feito nos últimos dias, qualquer resposta sobre uma eventual crise política para o primeiro-ministro, António Costa.

"O líder do PS, neste caso também primeiro-ministro, foi muito claro, não podia ter sido mais claro, quando disse que no dia que precisasse do PSD para aprovar o OE o seu Governo deixa de fazer sentido", declarou, referindo-se às recentes palavras de António Costa.

Instado a responder o que fará o PSD se a esquerda não se entender para aprovar o documento, Rui Rio respondeu: "É um não problema".
Jerónimo de Sousa avisa que ninguém se substitui ao PCP na aprovação do OE
Jerónimo de Sousa alertou, por sua vez, que ninguém se pode substituir ao PCP na posição do partido em relação ao próximo Orçamento do Estado. Foi esta a resposta do líder comunista aos apelos do Presidente da República para um entendimento à esquerda.

Questionado sobre se Marcelo Rebelo de Sousa pode ficar descansado quando à futura aprovação do OE por parte do PCP, Jerónimo respondeu que “descansado ou cansado, o que quero dizer é que ninguém se substitui ao PCP na sua posição”.

“Somos claros, com esta franqueza de disponibilidade para procurar fazer o melhor para os interesses dos trabalhadores e do povo e não para satisfazer o Presidente da República”, frisou.

Jerónimo de Sousa sublinhou ainda que não se pode esperar que o PCP aprove e assine de cruz um documento que ainda não existe.

O Partido Comunista Português garante que, perante essa proposta concreta, daremos a nossa contribuição, procurando valorizar o trabalho dos trabalhadores, valorizar os serviços públicos”, afirmou este sábado.
CDS diz que "orçamento cozinhado à esquerda não pode ser servido pela direita"
Já o presidente do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, afirmou este sábado que “um Orçamento que é cozinhado pela esquerda não pode ser servido pela direita”, mas remeteu a posição do partido para depois de conhecido o documento.

O CDS apresentará os seus contributos, vamos ver o documento e ouvir o que o Governo tem para apresentar, mas aquilo que nasce torto tarde ou nunca se endireita. Vamos aguardar, mas o prenúncio, os indícios que temos não são positivos, sobretudo para o país”, referiu.

Francisco Rodrigues dos Santos afirmou ainda que o Governo optou por “um diálogo preferencial” com os partidos à sua esquerda e “não auscultou a direita” para saber quais os seus contributos para a construção do próximo OE.

Para o líder do CDS, o Governo “continua acantonado à esquerda e cortou as vias de diálogo com a direita”.

“Eu creio que é evidente para todos os portugueses que um Orçamento que é cozinhado pela esquerda não pode ser servido pela direita”, sublinhou.
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